14º Acampamento Latino-americano da Juventude da Via Campesina.

“Nosso objetivo é criar uma agenda unificada de lutas para a América Latina”

18 de novembro de 2014
Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST

Entre os dias 20 e 23 de novembro, será realizado em Palmeira das Missões (RS) o 14º Acampamento Latino-Americano da Juventude. O evento, que é construção da Via Campesina e da Coordenadora Latinoamericana das Organizações do Campo (Cloc), sempre ocorreu na Argentina, mas, pela primeira vez, irá acontecer no Brasil.

Para Anderson Girotto, da coordenação do MST no Rio Grande do Sul e membro do coletivo de juventude, o acampamento, que pretende reunir mais de 2.000 jovens de 16 países, será um momento de dialogar e criar articulações para enfrentar os constantes ataques que os países latinoamericanos sofrem das forças conservadoras. 

Além disso, o acampamento tem como objetivo criar uma agenda unificada de lutas para a juventude do campo e da cidade. 

“É fundamental que campo e cidade consigam dialogar. É a partir dessas alianças e conjuntos que vamos conseguir apontar alternativas e descobrir possibilidades de atuação para o próximo período”, afirma Girotto. 

Confira abaixo a entrevista completa de Girotto para a Página do MST:

Como surgiu o acampamento e por que esse ano o acampamento é no Brasil?

Essa é a 14ª edição do acampamento, que faz parte da articulação da Cloc-Via Campesina. As outras edições do acampamento foram na Argentina, e agora vai acontecer no Brasil.

Queremos fortalecer o processo de articulação da nossa juventude da Via Campesina aqui no Brasil e retomar a articulação entre os movimentos brasileiros e latinoamericanos, dentro dessa conjuntura que vivemos de ofensiva da direita na América Latina. 

Quais os principais temas que serão debatidos?

Vamos dialogar sobre os nossos desafios para o próximo período. É uma programação diversificada. Vamos trabalhar vários temas ligados à juventude, como a homofobia, agroecologia e a criminalização da juventude periférica.

Os temas vão ser os que dizem respeito às lutas que a juventude faz contra o capital na América Latina e os desafios, não só da juventude, mas dos lutadores neste próximo período. 

Quantos países vão participar do acampamento?

Temos 16 países confirmados, sendo que países que vem com delegações maiores são do Cone Sul. Os países mais distantes vêm com representações, como África do Sul e Índia, que fazem parte da Via Campesina e vão ter um momento de integração conosco. Esperamos mais de 2.000 jovens no acampamento.

Além dos movimentos do campo, há presença dos movimentos urbanos?

Sim, estão participando da construção movimentos da cidade, como o Levante Popular da Juventude, O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), com o objetivo de aumentar o diálogo entre campo e cidade.

É fundamental que campo e cidade consigam dialogar. É a partir dessas alianças e conjuntos que vamos conseguir apontar alternativas e descobrir possibilidades de atuação para o próximo período. 

No Brasil, o processo de migração da maioria da população do campo para a cidade se selou até o ano 2000, e agora temos boa parte das pessoas na cidade. 

Essa articulação entre movimentos do campo e da cidade vem avançando significativamente nesses últimos anos, com a aproximação dos movimentos.

O acampamento vai criar um projeto de articulação para a juventude da América Latina?

Essa é uma das dificuldades que enfrentamos, de construir processos de luta unificados entre a América Latina. O MST, junto com a Via Campesina, sempre foi protagonista em tensionar a articulação da esquerda latinoamericana, e nesse último ciclo, onde vemos os Estados Unidos e o imperialismo atacando cada vez mais os países da América Latina, temos mais necessidade de fortalecer e construir esse processo de unidade. 

Um dos nossos objetivos é tirar uma agenda unificada de lutas para a América Latina, principalmente da juventude campesina contra o enfrentamento do agronegócio, que é um dos principais inimigos da juventude do campo. 

O que a juventude do campo pode fazer contra o avanço do capitalismo aos recursos naturais da América Latina?

Em primeiro lugar, a juventude precisa se organizar, para juntos termos mais forças para enfrentar o inimigo. 

Além de processos organizativos, é preciso denunciar o capital. Não só o capital na agricultura através do agronegócio, mas nas cidades. 

Por exemplo, a especulação imobiliária toma conta dos espaços urbanos e joga as pessoas para as periferias. O processo de denúncia das ocupações de terras é um método interessante e necessário para atacar o capital. 

Como você avalia a situação do jovem no campo atualmente?

Não é fácil para a juventude no campo: a própria universidade é voltada para a cidade, que vão se tornando mais populosas e insustentáveis.

A cidade hoje passa por uma situação que inviabiliza as condições de vida das pessoas. Basta ver São Paulo e a crise de abastecimento de água. E as condições no campo também são precarizadas. 

O agronegócio é um dos principais inimigos da juventude no campo. O maquinário pesado e a tecnologia voltada para produção de mercadorias expulsa as pessoas do campo.

A alternativa a isso é construir a Reforma Agrária Popular, avançando nas práticas, que são de produzir alimentos saudáveis e criar um lugar bom para se morar. É a partir dessa discussão que pensamos em alternativas para a melhora de vida e a permanência da juventude no campo.

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