Uma opinião sobre as mudanças na ATER da Bahia - Criação da SDR e BAHIATER .
Os principais fatos divulgados, são a criação da Secretaria de
Desenvolvimento Rural e da BAHIATER . É importante,entretanto, frisar que o
processo de modificação das estruturas, não houve qualquer participação dos
atores da ruralidade baiana. Seja dos agricultores familiares, seja dos
técnicos ou do CREA-BA e entidades relacionadas.
A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, segundo
Caporal,2010, estabelece que a Missão da Ater deve ser “Participar na promoção e
animação de processos capazes de contribuir para a construção e execução de estratégias de
desenvolvimento rural sustentável, centrado na expansão e fortalecimento da agricultura familiar e das suas
organizações, por meio de metodologias educativas e participativas, integradas às dinâmicas locais,
buscando viabilizar as condições para o exercício da cidadania e a melhoria da qualidade de vida da
sociedade” (MDA, 2004).
Com essa
característica surgiu a PNATER, com seus princípios e diretrizes norteadores.
A
descentralização da ATER também está preconizada na PNATER, aonde reafirma que
a nova Ater deverá organizar-se na forma de um Sistema Nacional Descentralizado
de Ater Pública, do qual participem entidades estatais e não estatais que
tenham interesse e protagonismo no campo da Assistência Técnica e Extensão
Rural e apresentem as condições mínimas estabelecidas nesta Política, para o
atendimento com a qualidade desejável ao estado com o maior número de
Agricultores Familiares.
A
descentralização passa pela contratação de ATER através de Chamadas Públicas,
mas é preciso que seja observada a experiência acumulada dessas entidades, bem
como, sua capacidade técnica e de infra-estrutura para realização do serviço
contratado.
Não
podemos crer numa nova estrutura, que não tenha sido pensada estrategicamente
nas bases da PNATER, seria esse pois, um erro primário.
O ART. 6º
do Projeto de Lei 21.007/2014, diz o seguinte:
"Art. 6º - A Secretaria de Desenvolvimento Rural - SDR tem por finalidade
formular, articular e executar políticas, programas, projetos e ações voltadas
para a reforma agrária e o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar,
nela incluídos os meeiros, parceiros, quilombolas, populações indígenas, assentados
da reforma agrária, trabalhadores rurais, fundo de fechos de pastos,
pescadores, marisqueiros, ribeirinhos, dentre outros, tendo como princípios
norteadores a agroecologia, rede solidária de produção e comercialização,
desenvolvimento sustentável, gestão e controle social das políticas públicas.
§ 9º - A
Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural - BAHIATER,
Órgão em Regime Especial de Administração Direta, da estrutura da Secretaria de
Desenvolvimento Rural - SDR, tem por finalidade promover a execução de
políticas de desenvolvimento da assistência técnica e extensão rural,
especialmente as que contribuam para a elevação da produção, da produtividade e
da qualidade dos produtos e serviços rurais, para a melhoria das condições de
renda, da qualidade de vida e para a promoção social e o desenvolvimento
sustentável no meio rural baiano."
Se
quisermos que os princípios norteadores da SDR sejam priorizados, só para
lembrar, "a agroecologia, rede solidária de produção e
comercialização, desenvolvimento sustentável, gestão e controle social das
políticas públicas", bem como as finalidades
da BAHIATER de elevação da produção, produtividade e qualidade dos produtos e
serviços rurais, definitivamente é preciso muita cautela:
1) Que não haja a precarização nas
contratações, como 100% Sistema REDA- Regime Especial de Direito
Administrativo, ela já mostrou sua ineficiência para o meio rural. Para se
fazer Extensão Rural, é preciso entendê-la como um processo de educação,
participativa, co-evolutiva de pesquisa-ação voltada a realidade objetiva de
uma determinada região ou comunidade territorial que se pretende desenvolver.
Esse entendimento é fundamental para o cumprimento da missão, sob o ponto de vista de respeito à
ancestralidade e conhecimentos empíricos dos Agricultores Familiares, que
associados aos métodos científicos, desdobrarão em uma construção deste rural
pretendido, em consonância com a PNATER;
2) Outro ponto que deve ser levado
em consideração é a importância da Pesquisa rural, sobretudo no estado que
detém o maior percentual de caatinga do nordeste, a pesquisa de convivência com
o semi-árido, associado à Extensão Rural, é uma necessidade;
3) A ANATER foi criada com o intuito
de fortalecimento da ATER pública estatal, a Bahia, diferentemente de todos os
estados, extingue sua empresa pública, inaugurando um modelo único no país,
será que o caminho na contra-mão , resultará na excelência em ATER ? ou poderá
ser o início de um processo irreversível de privatização da ATER na Bahia?
Referente
à EBDA, é preciso que, não seja "implodida", sem que seja considerado que existem, Programas, projetos,
planejamento de cadeias produtivas com um histórico importante e ainda
que temos inúmeros profissionais altamente qualificados, seja no ambiente técnico
como administrativo que pode ser plenamente aproveitado na Secretaria de
Desenvolvimento Rural , ou mesmo em uma outra secretaria . É preciso a
racionalidade e o respeito para com os ex-servidores da EBDA e a história da
Extensão Rural da Bahia. A experiência acumulada da EBDA deve ser levada em
consideração, para a elaboração, condução, fiscalização e avaliação da nova
ATER a ser executada.
Para
finalizar, temos que ser otimistas, planejar o rural afinal,não é tarefa das
mais fáceis. É preciso que a SDR não
fuja da sua missão, que atenda aos princípios da PNATER, qua a BAHIATER cumpra
a sua finalidade, que de fato a Bahia passe a ser um estado com excelência na ATER pública, como
Minas,Paraná,Santa Catarina, São Paulo,Ceará dentre outras, até porque detém o
maior número e ótimas condições humanas e edafo-climáticas.
É preciso
e esperamos mudança no rural baiano que
garantam de fato, universalização, efetividade e qualidade na ATER , para um
público que embora historicamente no descaso, responde pela produção de 70% do
alimento que compõe a Cesta Básica e importante parcela do PIB do Brasil.
É preciso ainda que se dê publicidade, pois, nada está sendo divulgado sobre o detalhamento dessas mudanças, sem o que não há entendimento completo.
É preciso ainda que se dê publicidade, pois, nada está sendo divulgado sobre o detalhamento dessas mudanças, sem o que não há entendimento completo.
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