Homeopatia agrícola, acessem um artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Lorenzetti (2014) em artigo publicado no Portal da Horticultura realiza minuciosa descrição sobre as origens e a evolução e desenvolvimento das aplicações homeopáticas na agricultura em geral. Este autor não deixa de referir os enormes avanços obtidos pelos egípcios e já registrados em manifestações anteriores. Os egípcios cultivaram as várzeas do rio Nilo, utilizando a lama enriquecida em nutrientes e a irrigação para incrementarem suas colheitas de cereais e habitando nas porções mais elevadas desta bacia hidrográfica. Cita também a rotação de culturas, que ganhava a denominação de pousio, e que notabilizou a evolução agrícola europeia durante a idade média.
O uso de fertilizantes minerais permitiu recuperar rapidamente solos que se encontravam esgotados em nutrientes. Então o problema maior passaram a ser as doenças e pragas, que primordialmente eram combatidas com produtos químicos. Ao menos no chamado “agrobusiness” este modelo perdura até hoje, transformando agricultores e profissionais do setor em seguidores de modelos pré-definidos (Khatounian, 2001). Não existe qualquer julgamento de valor ou crítica pela crítica nesta constatação, mas o manifesto de que o desafio de procurar estabelecer novos paradigmas não deve estar restrito a pequenos agricultores ou agricultores familiares, mas é um repto que deve motivar a todos.
Não é aqui o foro para discutir viabilidades logísticas e operacionais de modelos alternativos de manejo agrícola. Mas é aqui que se deve começar a conceber alternativas mais harmônicas com a natureza e os ecossistemas e que possam ser eficazes e eficientes da mesma forma. Em toda a história da agricultura sempre existiram e foram consistentes e amparadas por concepções profundas e bem antigas, o desenvolvimento que visavam retomar e desenvolver antigas práticas agrícolas e a concepção da aplicação da homeopatia vegetal ou animal é apenas mais uma delas.
O eixo motivador destas iniciativas sempre foi caracterizado na denominação de “práticas orgânicas”, mesmo muito antes de, adequadamente, a legislação brasileira definir práticas deste tipo por aplicações de sistemas produtivos em harmonia com ecossistemas naturais. Altieri (sem data) citado por Lorenzetti (2014) já ressalta que a agroecologia e suas variantes engloba diversos ramos científicos, com elementos sociais, humanos e absoluto respeito pela manutenção e absorção dos conhecimentos e saberes tradicionais e históricos. As novas ferramentas para auxiliar em modelos de produção mais sustentáveis e menos impactantes ao ambiente natural são cada vez mais necessárias. Iniciadas com o emprego de extratos e óleos essenciais (Stangarlin, 2007), estas iniciativas rapidamente evoluíram para abordagens e apropriações homeopáticas.
Segundo Lorenzetti (2014), no país, a Instrução Normativa 07 permite utilização da homeopatia na agricultura orgânica. A grande vantagem da homeopatia é a visão holística ou integradora, que não segrega o ente de sua doença ou do causador da moléstia. Desde Hipócrates, em 460 AC, já se sabia a importância da semelhança ou similitude. Asclépio ou Esculápio popularizaram na Grécia a concepção de “farma ou farmachi”. Tudo é remédio ou veneno, depende da dosagem. Somente Galeno (201 a 131 AC) é que popularizaria a cura alopática onde se hegemoniza a cura pelo contrário.
Somente em 1.796, o médico alemão Cristiano Frederico Samuel Hahnemann compila e publica seus estudos, que fundamentam a ciência homeopática. Em vegetais até hoje existe ausência de fundamentação desta natureza, mas nem por isso as tentativas carecem de resultantes. A homeopatia se baseia em cura pela semelhante quando é mobilizada a capacidade imunológica dos organismos, com experimentação em seres sadios, doses de medicamento mínimas e dinamizadas e substância única.
Não é objeto do presente artigo, discutir abordagens tecnicistas sobre o emprego ou não de princípios clássicos da homeopatia, desenvolvidos em organismos e agora adaptados para plantas. A questão é lançar idéias que germinem como sementes em solos férteis e que possam ajudar a pujante agricultura, e os notáveis resultados obtidos da pecuária a serem cada vez mais compatibilizados ou harmonizados com as características e variantes apresentadas pelos ecossistemas e o meio natural.
Com a importante redução dos impactos gerados no meio ambiente pela aplicação excessiva de, herbicidas, fungicidas e pesticidas. Que já representam quantidades aparentemente excessivas e exageradamente impactantes para os meios naturais, e correspondem a valores relativamente assustadores, movidas por mercados que cada vez mais impõe interesses que a bastante tempo correspondem a preocupações vinculadas meramente a aspectos econômicos.
Apresentando o país, tão elevada vocação agrícola, considerando-se sua extensão, clima, recursos humanos e tecnológicos, e outros fatores, ninguém deve negligenciar a oportunidade de contribuir para o debate e a evolução de todo o setor em direção a parâmetros de maior sustentabilidade, com a melhoria da qualidade ambiental e da qualidade de vida de todos os atores envolvidos nestes cenários.
Referências:
ALTIERI, M. A. Agroecologia: una ciencia nueva para enfrentar los desafios de la agricultura sustentable del siglo XXI, University of California, Berkeley.
LORENZETTI, E. R. Agrohomeopatia – uma nova ferramenta ao alcance do agricultor. In.:http://portaldahorticultura.xpg.uol.com.br/agrohomeopatia.html. Portal da Horticultura, acesso em 19/08/2014 as 14h.
STANGARLIN, J. R. Uso de extratos e oleos essenciais no controle de doenças de plantas – Fitopatologia Brasileira, Maringá, v. 32 suplemento, ago 2007, p.94–96.
KHATOUNIAN, C.A. A reconstrução ecológica da agricultura, Botucatu: Agroecológica, 2001, 348p.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
Publicado no Portal EcoDebate, 05/05/2015
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