Chapada Diamantina- Buriti Cristalino(Brotas de Macaúbas-Ba), aonde nasceu, Zequinha Barreto, um Revolucionário Brasileiro!






Atividade realizada no galpão no centro de Buriti Cristalino. Foto: Eduardo Sá.



                                                           Foto Kalila Pinto e João Bosco Ramalho.

Livro do José Campos Barreto

Zequinha Barreto, um Revolucionário Brasileiro

Breve relato sobre a vida de José Campos Barreto, ou
simplesmente Zequinha, o brasileiro que tombou ao
lado de seu companheiro, Capitão Carlos Lamarca,
no sertão da Bahia, em 17 de Setembro de 1971, na
luta por um Brasil Independente e Socialista.
Uma publicação do Instituto Zequinha Barreto
TEXTO:
Organização:
Márcio Amêndola de Oliveira
Participação e Colaboração:
Pedrina das Graças / Márcio Bento
Olival Campos Barreto (Divá)
Antonio Carlos Cordeiro / Stanislaw Szermeta
Nádia Gebara
Arsênio Rodrigues da Silva (em memória)
Julho de 2008
(Direitos Reservados: Toda reprodução e/ou citação é autorizada
pelos autores, desde que citada a fonte e contextualizada)
4 Zequinha Barreto
Instituto Socialismo e Democracia
José Campos Barreto – ‘Zequinha Barreto’
Praça Joaquim dos Santos Ribeiro, 265 – Bairro Km 18
Osasco-SP / CEP 06190-210
Fone: (11) 3695-0661 (falar com Pedrina)
E-mail: izbarreto@ig.com.br
Site: http://www.zequinhabarreto.org.br/izb/
Sindicato dos Químicos Unificados de
Plásticos, Abrasivos e Similares de
Campinas, Osasco, Vinhedo e Regiões
Regional de Osasco:
Praça Joaquim dos Santos Ribeiro, 265 – Bairro Km 18
Osasco-SP/ CEP 06190-210
Fones: (11) 3608-5411 / 3608-6196 / 3695-0400 / 3695-1596
E-mail: plasquiluta@uol.com.br
Site: www.quimicosunificados.com.br
Um Revolucionário Brasileiro 5

Índice
Introdução………………………………………………………… 07
Local e data de nascimento de Zequinha ……………… 08
“Zequinha vai ser padre” …………………………………… 08
O irmão dedicado, o filho do sertão rude …………….. 10
Um mito popular……………………………………………….. 11
Zequinha serve o Exército ………………………………….. 13
Desejou a carreira militar,
mas acabou líder estudantil ………………………………… 15
O 1o de Maio e a Greve de julho de 1968 …………….. 16
O CENEART …………………………………………………….. 18
Passeata em Osasco ………………………………………….. 18
O 1o de Maio …………………………………………………….. 20
A grande Greve …………………………………………………. 24
Zequinha faz a repressão vacilar …………………………. 25
Prisão e torturas ……………………………………………….. 26
Repercussão no País e apoio da classe teatral………. 30
Habeas Corpus e liberdade após
quase 100 dias de prisão ……………………………………. 31
Manifesto de Balanço da Greve ………………………….. 33
Acaba o sonho de organizar os
trabalhadores na legalidade ……………………………….. 48
Guerrilha rural, uma alternativa…………………………. 50
O cerco do delegado torturador ………………………….. 52
Zequinha e Lamarca caem juntos
pelas mãos da ditadura………………………………………. 54
Resgatando a história de Zequinha ……………………… 57
Nasce o Instituto Socialismo e Democracia
José Campos Barreto …………………………………………. 58
Biblioteca Arcênio Rodrigues da Silva …………………. 59
Arcênio: Companheiro, Amigo, Camarada …………… 60
Estrutura do Instituto ………………………………………… 62
Como participar do Instituto Zequinha Barreto …….. 65
6 Zequinha Barreto
Zequinha Barreto, um
Revolucionário Brasileiro
Otoniel, Zequinha (no meio) e Olderico Campos Barreto, em 1958
“Amigos na vida,
amigos na morte”
(Zequinha Barreto)
Um Revolucionário Brasileiro 7
Introdução
Em junho de 2005, o jornal do Sindicato dos Bancários fez contato com o Instituto Socialismo e Democracia José Campos Barreto para a realização de uma matéria sobre a vida e a morte de Zequinha Barreto.
Através de pesquisa nos documentos históricos do acervo da Biblioteca do Instituto (batizada com o nome de Arsênio Rodrigues), um breve histórico de Zequinha foi compilado. Agora, ampliamos e revisamos aquela publicação, no sentido de dar mais precisão e contar mais alguns fatos fundamentais da trajetória daquele que foi um dos maiores personagens da história da luta operária e estudantil de Osasco e do País.
Veja a seguir o texto que revela um pouco de quem foi Zequinha, um dos grandes revolucionários brasileiros, que tombou junto com Carlos Lamarca, o ‘Capitão da Guerrilha’, em 1971, no sertão da Bahia.
Um livro mais completo sobre a vida e a morte de José Campos Barreto está sendo preparado pela Coordenação de Biblioteca, Documentação e Memória Histórica do Instituto, devendo ser lançado em breve.
8 Zequinha Barreto
Local e data de nascimento de
Zequinha Barreto e os nomes de seus
familiares
José Campos Barreto, Zequinha, nasceu em Brotas de Macaúbas, Bahia, em 02 de outubro de 1946. No ano de 2008, portanto, ele faria 62 anos de idade. Seus pais eram:
José de Araújo Barreto, um agricultor e comerciante próspero de Brotas de Macaúbas, e Adelaide Campos Barreto, doméstica.
Além de Zequinha Barreto, o mais velho de todos, a família tinha mais 6 irmãos: Olderico Campos Barreto (preso e torturado pela ditadura militar, sobreviveu aos ‘anos de chumbo’, atualmente residindo na propriedade da família, na Bahia); Otoniel Campos Barreto (morreu assassinado pela repressão poucos dias antes de Zequinha); Olival Campos Barreto (‘Divá’, que ainda menino sobreviveu à invasão da casa dos Barreto em agosto de 1971, e que atualmente vive em Osasco); Maria Dolores Campos Barreto (que atualmente vive em Osasco); Ana Campos Barreto (que atualmente vive no bairro de Santo Amaro, em São Paulo); e Edinalva Campos Barreto (que atualmente vive na Itália).
“Zequinha vai ser Padre”, dizem seus
Pais. No Seminário, a inteligência e o
talento se revelam, mas o destino do
jovem estava traçado fora da vida
religiosa
Aos 12 anos de idade, ainda um menino miúdo e magrinho, Zequinha ingressou no Seminário, um desejo de
Um Revolucionário Brasileiro 9
seus pais, que queriam vê-lo Padre. O menino não foi consultado sobre o assunto, e seguiu resignado para o seu estino. Muito religioso, seu pai costumava dizer que “a gente nasceu pra ser Santo, não pra ser gente”, como relata um de seus filhos, Olderico. O Seminário ficava em Garanhuns, Pernambuco, e Zequinha passou a ver seus familiares apenas nos finais de ano.
Em 1964, aos 17 anos, Zequinha abandonou o Seminário e voltou para sua casa. Ele já se tornara uma liderança em sua família e na sua comunidade. Aquele menino franzino dera lugar a um homem alto, moreno, com mais de um metro e oitenta, magro, de músculos rijos, altivo, o olhar sempre sereno.
Participava da vida cultural da cidade e da região, mas sem ter contato com organizações camponesas ou estudantis.
Adquiriu uma oratória própria do Seminário, mas já discutia a “Aliança para o Progresso”, um programa estadunidense (de antes da Ditadura brasileira) de ajuda pretensamente humanitária aos países mais pobres. Acontece que os rodutos (alimentos, mantimentos em geral) da Aliança deveriam ser distribuídos gratuitamente aos flagelados da Seca, mas uitos ‘coronéis’ do Nordeste desviavam os produtos e os vendiam. Zequinha, por este motivo, passou a lutar para que as embalagens destas doações viessem com inscrições proibindo a venda e a frase: “Distribuição Gratuita”.
Mas Zequinha ainda não tinha feito contato com as idéias socialistas. Um comerciante de sua cidade dizia-se ‘teórico’ do socialismo. Quando Zequinha começou a voltar-se para as idéias socialistas, convidou o comerciante a ‘partir para a prática’, mas não foi atendido.
No ano de 1964, após abandonar o Seminário, Zequinha passou a trabalhar com seu irmão, Olderico, em diversos acampamentos de mineração, ambos como garimpeiros. A empreitada não deu certo e Zequinha mudou-se para São Paulo, onde tinha parentes em Osasco.
10 Zequinha Barreto
Zequinha, o irmão dedicado e amigo, o
filho do sertão rude. O homem forjado
a ferro e fogo
Os grandes amigos de Zequinha Barreto foram sem dúvida seus irmãos Olderico e Otoniel Campos Barreto.
Otoniel morreu na ‘Operação Pajuçara’, um cerco comandado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury na Bahia (terra de Zequinha), e Olderico, apesar de ferido gravemente, sobreviveu e ficou preso por vários anos.
Olderico era dois anos mais novo que Zequinha, e até hoje dedica parte de seu tempo a honrar e lembrar da luta e da vida de seu irmão. Quando crianças, Zequinha sempre protegia o mais novo. Ambos eram muito castigados para cumprirem tarefas duras de adultos, como cuidar da roça e do gado, desde a madrugada até o anoitecer. Quando Zequinha, aos 11 anos, era castigado com chibatadas nas mãos, Olderico, de apenas 9, também oferecia suas mãos para o castigo. Desta forma, seu pai acabava abandonando o castigo.
Certa ocasião, quando um cavalo da família fugiu sertão adentro à noite, Zequinha desesperou-se, pois sabia que ele e seu pequeno irmão seriam fortemente castigados.
Mandou Olderico voltar para casa, e partiu sozinho em busca do cavalo. Andou mais de 10 quilômetros, e por volta da meia-noite, quando toda a família e vizinhos já o procuravam desesperados, apareceu Zequinha, montado no cavalo, entrando pelo sítio da família. Olderico, ao lembrar deste episódio, chega às lágrimas ao afirmar:
“Naquela noite, meu pai não nos castigou, e o Zequinha
Um Revolucionário Brasileiro 11
foi recebido com alívio e o respeito de todos. Ele já era um homem, e tinha só 11 anos de idade”.
Em Osasco, Zequinha foi muito amigo de José Ibrahim, de Roque Aparecido da Silva e muitos outros companheiros.
Por seu tio Pedrão, que o acolheu, Zequinha nutria grande respeito, e o considerava como um pai, e Pedrão, o tinha como um filho. Na humilde casa, no bairro de Santo Antonio, Zequinha dormia num velho sofá da pequena sala, de onde acordava de madrugada para ir trabalhar nas fábricas, ou direto para o quartel de Quitaúna, durante o serviço militar obrigatório, sempre empoleirado numa velha bicicleta.
Na clandestinidade, conheceu o capitão Carlos Lamarca, por quem nutria grande admiração, mas com quem conviveu por pouco tempo.
Na Bahia, em Brotas de Macaúbas,
Buriti Cristalino e região, Zequinha
tornou-se um mito popular
No ano 2000, estudantes de jornalismo da UNB (Universidade de Brasília) produziram um jornal inteiro sobre a guerrilha no sertão da Bahia (‘Campus’, edição Especial – Novembro de 2000), cujos personagens centrais foram Carlos Lamarca e José Campos Barreto, o Zequinha.
Reproduzimos aqui algumas passagens deste importante levantamento histórico realizado pelos alunos da UNB.
“Entre os moradores de Buriti Cristalino e redondezas, Zequinha, um filho da terra, foi eleito o verdadeiro herói da luta contra a ditadura. Hoje, mais do que nunca, o ex-seminarista é admirado pelos baianos de uma
12 Zequinha Barreto
parte do sertão. Em 1971 eram poucos no município de Brotas de Macaúbas que faziam idéia do porque do aparato policial/militar de perseguição, prisões, pressões e mortes. Distante 700 quilômetros de Salvador, a região era – e continua sendo – uma ilha dentro da Bahia. Nesse cenário, difícil era encontrar quem não conhecesse Zequinha. ‘Todo mundo conhecia todo mundo’, lembra Olderico Barreto, seu irmão.
José Campos Barreto era carismático. Brincava com todos, jogava futebol – muito bem, dizem – no time de Buriti Cristalino, escrevia peças de teatro, ‘batia’ violão e cantava com os amigos. ‘Tocava as músicas dos Beatles e traduzia para a gente’, conta Wanderley Rosa Matos, agrônomo que pesquisou a vida de Zequinha, em entrevistas com a população de Brotas de Macaúbas, para escrever um livro sobre a história da cidade.
Falava latim, francês, alemão e inglês. O domínio dos idiomas era fruto dos anos de estudo no seminário de Garanhuns, em Pernambuco, onde ingressou aos doze anos de idade. Mas ele não queria ser padre. Talvez por ser incompatível com o jeito que lhe deu a fama de conquistador, especialmente quando voltava de São Paulo para passar as férias na região. ‘Conhecia Zequinha, um rapaz novo, moreno, bonito e alto’, lembra Aristina Batista de Souza, ajudante na pensão Santa Clara, um dos lugares onde ele costumava ficar quando ia a Brotas.
Lamartine Araújo e seu irmão, Silvio eram companheiros de Zequinha nas rodas de violão. Sempre que ele estava em Ibotirama, ficava na casa dos irmãos e participava de serenatas nas barrancas do rio São Francisco.
Segundo Lamartine, era querido por todos, quem nem desconfiavam das ligações dele com a esquerda”.
Em 1963, Zequinha não volta mais para Garanhuns.
Deixa o seminário para morar em Osasco, na Grande São Um Revolucionário Brasileiro 13 Paulo, na casa de um tio. No ano seguinte, entraria para o serviço militar obrigatório, no quartel de Quitaúna.
Zequinha serve o exército, entra para
os movimentos estudantil e operário e
desponta como uma forte liderança em Osasco
Em 1964 Zequinha Barreto serviu o exército, sendo promovido a Cabo durante o serviço militar. Seu serviço
foi prestado no forte de Quitaúna, em Osasco. Apesar de alguns pensarem que ele teve contato com o
Capitão Lamarca durante o serviço militar, isto realmente não ocorreu. O encontro dos dois teria ocorrido
mais tarde, já na clandestinidade, quando Lamarca já havia abandonado o Exército, tornando-se
14 Zequinha Barreto
combatente revolucionário, sendo considerado o inimigo número um da ditadura militar.
Mas um trecho do livro ‘Iara’, de Judith Lieblich Patarra (Editora Rosa dos Tempos, 1993) coloca dúvidas
sobre esta versão. Lamarca, em diálogos com Iara Iavelberg na clandestinidade, teria citado o nome de ‘Barreto*’
já em 1966, quando ainda estava no serviço militar em Quitaúna. Diz Lamarca: “Em 1966, ainda primeirotenente,
voltei ao 4º R.I.. Inquérito, angústia crescente, obrigado a reprimir operário em Osasco, Barreto(*) no
meio, cercar estudantes no Centro, você no meio. Não me formei para isso. O que faço aqui dentro? Deixei o
Partido, discuti com os amigos, Darcy. Concebemos um grupo de estudos. Onofre, Marighela, Sarapu. Quem se
preocupava era Afonso, irmão do Tom. Grande amigo.
Mas não, aprendi tanto e agora virei capitão-do-mato?
À tropa ensinei morrer pelo Brasil e comando porrada em estudante? Baioneta castigando operário? Não defendemos
a Pátria, mas o patrão; daqui a pouco o soldado prende o pai, irmãos, vizinhos, parentes, muitos
incorporados dali de perto, maluco, endoido, de manhã faço a barba, espelho, olho no olho, colaboro com um
sistema contrário a todos os meus princípios, qual a alternativa?
O grupo medita, quero me demitir. Maninho joga água fria. Preferível avançar um passo aqui dentro,
lá fora não influenciaremos nada, tu és um tremendo profissional, gostam de ti, em um ano ou dois tu és
major, teremos ascendência. Não se precipite. Divorcieime, entretanto, desse posicionamento. Cuba nos ajuda,
o Vietnã é um facho. Vamos resolver isso. Um punhado de gente armada, pronta a dar a vida, muda o curso da História.
Larguei o quartel e me amarraram”, diz Lamarca.
No texto, o capitão (ele permaneceria mais algum tempo no exército até esta patente) mostra já estar ativo numa
Um Revolucionário Brasileiro 15
vida dupla (de militante de esquerda e militar de carreira), quando ainda servia o exército, em Quitaúna, seu
último quartel, e que sua organização desejava que ele continuasse no meio militar, a fim de aliciar outros oficiais
para o campo da esquerda. Porém, o Capitão Carlos Lamarca partiria para a clandestinidade e a guerrilha em
janeiro de 1969, num caminho sem volta.
Desejou carreira militar, mas acabou
líder estudantil
Zequinha chegou a desejar seguir a carreira militar.
Primeiramente pretendia conquistar a patente de cabo, para depois chegar a sargento. Seu sonho não
se realizou, e após o período obrigatório (cerca de 1 ano) foi dispensado do serviço militar. Depois disso,
só viria a pegar em armas para valer no período da clandestinidade.
16 Zequinha Barreto
Em 1965 Zequinha iniciou contatos com os movimentos de operários e estudantes da cidade, que eram muito
avançados para a época. Apesar da recém instalada ditadura militar, os jovens e operários de Osasco viviam em
plena efervescência política. Zequinha gostava de música e sempre saía acompanhado de seu pequeno violão, animando os grupos de estudantes que conhecia. Em 1966, já trabalhando como operário em Osasco, ajudou a fundar
e chegou à presidência do CEO (Círculo Estudantil de Osasco), além de participar de um grupo de teatro
amador. Era um símbolo da aliança operária/estudantil.
Para sobreviver, trabalhava numa das fábricas da cidade, com alto grau de politização de muitos de seus trabalhadores.
Ali, logo se integrou à Comissão de Fábrica, da qual José Ibrahim era seu presidente.
As lutas estudantil e política. O 1º de
Maio e a Greve de Julho em Osasco.
Zequinha Barreto passa a militar nas
organizações clandestinas
No movimento estudantil Zequinha presidiu o CEO (Círculo Estudantil de Osasco), sucessor da
União dos Estudantes de Osasco (UEO), criada em 1962, mas que perdeu força e credibilidade, e se esvaziou
após o golpe militar de 1964. O presidente da entidade de então, Gabriel Roberto Figueiredo
foi preso logo após o golpe e a entidade estudantil se esvaziou. O terreno doado pela Prefeitura de
Osasco à UEO foi ocupado pela Guarnição da Força Pública (Polícia Militar) e em 1965 a UEO foi
extinta por um Decreto da ditadura militar, o mesmo Decreto que extinguiu a UNE (União Nacional
Um Revolucionário Brasileiro 17
de Estudantes) e as UEE (Uniões Estaduais de Estudantes).
Com a nova organização estudantil (CEO), de caráter não oficial, os estudantes foram para as ruas e se aproximaram dos movimentos sociais e do operariado.
Barreto era um destes líderes denominados ‘operários- estudantes’, que uniam as duas pontas da militância
política daquela época.
O CEO foi fundado após uma reunião no segundo semestre de 1965. Orlando Miranda, em seu livro
“Obscuros Heróis de Capricórnio” descreve esta passagem, da qual Zequinha Barreto participou:
“Do meio para o fim de 1965, dentro dos princípios de flexibilidade e ligação com a base, a redefinição
orgânica dos movimentos encontra-se encaminhada.
Os estudantes, uns cinqüenta ou sessenta, reunidos numa sobreloja emprestada, comprimidos
na sala pequena ou derramados pela escada, criam o C.E.O. (Círculo Estudantil de Osasco) e
aprovam um sucinto Regimento. Na condução do processo estão Gabriel, Dudu e alguns remanescentes
da antiga U.E.O., como Clayton; mas também uma safra de militantes recentes como Spinosa (que,
nas suas palavras, ‘avançava para a esquerda’, vindo de posições mais conservadoras), Barreto (que
não conseguindo seguir a carreira militar, tornarase operário), Italiano, Pedrão, Waldir Gordinho,
Jesse, Gorila, Roque e outros”.
Para Orlando Miranda, a antiga UEO caracterizava- se por mobilizações táticas, reivindicatórias,
enquanto que o CEO parte para a contestação e usa táticas de desgaste do regime militar. O CEO aproxima-
se fortemente dos operários e mantém laços dentro das fábricas, como o próprio Barreto, que
passou por várias empresas (até o último emprego,
18 Zequinha Barreto
na Cobrasma), sempre fazendo um trabalho de formação política e de ‘ponte’ entre operários e estudantes. O CEO chegou a participar de reuniões com Associações de Bairros, tentando integrar a comunidade local numa ‘rede de solidariedade’ aos trabalhadores e jovens contestadores do regime militar, em torno de lutas comuns, como o movimento Anti-Arrocho (salarial), contra a inflação de alimentos, entre outras.
Para Orlando Miranda, havia “no ar uma capacidade de combate, um sentimento de comuna, um senso de
vanguarda” nos espíritos daqueles jovens e operários que lutavam por liberdade e justiça em tempos de opressão.
O CENEART
Em matéria publicada no Jornal Diário da Região (Osasco), o Coordenador de Comunicação do Instituto
Zequinha Barreto, Márcio Bento, conta um pouco a história do CENEART, tradicional colégio de Osasco, do
qual Zequinha Barreto foi aluno. “Muitos dos que cruzam os portões do Ceneart talvez não imaginem o quanto
da história da nossa cidade passou naquela escola.
Antigo Geart (Ginásio Estadual Antonio Raposo Tavares), ainda na Rua Marcechal Bittencourt, depois Ceart
(pela inclusão do curso clássico e científico) e mais tarde Ceneart (com o advento da escola normal), foi no
governo estadual Carvalho Pinto, em 1962, que o prédio principal foi construído, monumental para os padrões
da época, capaz de conter um número de alunos dez vezes maior do que na antiga escola”. Zequinha,
continua Márcio Bento, “também aluno do Ceneart, viveu naquela escola a atmosfera bastante peculiar da época.
Lá se reuniam operários-estudantes que aproveitavam o ambiente menos rígido e autoritário do colégio
para organizarem as suas atuações nas fábricas”.
Um Revolucionário Brasileiro 19
Passeata em Osasco
É preciso acrescentar uma informação histórica de grande importância. Em 1968, com o alto grau de organização
dos estudantes e trabalhadores de Osasco, o regime militar começa a justificar o período da ditadura
batizado como “Anos de Chumbo”. Numa manifestação da UNE no Rio de Janeiro, o estudante Édson Luiz foi
assassinado, gerando grande revolta no meio estudantil e democrático. Os funerais daquele jovem acabaram sendo
o ‘motor’ de uma grande manifestação em Osasco, sendo a primeira manifestação de caráter mais estudantil.
Em seguida foi convocada uma outra manifestação, da qual participaram mais de três mil estudantes. Era o ano
do endurecimento do regime militar, e a repressão se intensificava.
Na passeata de Osasco, que teria reunido mais de três mil estudantes, Zequinha Barreto e outros líderes
da juventude da época, como Roque da Silva, ostentaram na frente da manifestação uma bandeira dos ‘Vietcongs’,
a milícia comunista armada do Vietnã do Norte que lutava contra o governo do Sul (os Sul-Vietnamitas
recebiam o apoio da CIA e do exército dos EUA). Os estudantes de vários colégios e bairros (destaques para
os alunos do Rochedale, do GEPA e do CENEART) gritavam palavras de ordem, como ‘Abaixo a Ditadura!’;
‘Liberdade aos Operários!’; ou ‘O povo, unido, jamais será vencido!’.
Os generais do Exército brasileiro ficaram revoltados com a ousadia dos estudantes de Osasco em ostentarem
uma bandeira vietcong (comunista) e oficiais do comando militar da época chegaram a exigir autorização para
prender todo mundo. Até a cassação do prefeito do MDB, Guaçu Piteri teria sido cogitada. O estudante Roque, que
era assessor da prefeitura, indicado pelo movimento estudantil, foi demitido a mando do exército, e os estudan
20 Zequinha Barreto

tes romperam relações com o prefeito.
Convidado por José Ibrahim e outros líderes da esquerda sindical, Zequinha passou a manter contato com
Organizações socialistas, como a Colina (de Minas Gerais),através do militante Jorge Batista (jornalista que
depois radicou-se em Osasco e que hoje, após sua morte,recebe o nome de outro Instituto na cidade), de membros
da dissidência do P.O.C. (Partido Operário Comunista),e da ALN (Aliança Libertadora Nacional), de Carlos
Marighela. Aos poucos, quase todos os líderes operários e estudantis de Osasco, inclusive Zequinha Barreto, já se
agrupavam dentro da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).
O 1º de Maio
Nas empresas por onde passou, Barreto foi líder, porque sempre soube articular o trabalho de base na fábrica.
Participou da Oposição Sindical, que levou José Ibrahim à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco,
juntamente com os companheiros da FNT (Frente Nacional do Trabalho), impondo uma fragorosa derrota aos
‘pelegos’ (sindicalistas aliados aos patrões). Era o ano de 1967, e a ditadura militar começava a recrudescer.
Zequinha Barreto era considerado um trabalhador inteligente e capaz, mas não aceitava trabalhos na área administrativa das empresas, preferindo ficar como ‘peão’, entre os operários. Em depoimento a Orlando Miranda, Odin Jiorjon afirma que “o Barreto tinha condições para trabalhar no escritório, ganhar mais. Mas ele não queria, queria ficar na oficina em contato com o operário.
Cada dia ele almoçava num lugar, para discutir com um pessoal diferente, falar de política.
Se tinha dois sujeitos falando de futebol no banhei
Um Revolucionário Brasileiro 21
 
Zequinha no 1o de Maio de 1968, na
Praça da Sé. Ele estava cercado pela
polícia, pouco antes do ataque ao
palanque do Governador biônico e dos
pelegos
22 Zequinha Barreto
ro e chegava o Barreto, já começava a falar de greve, de política. Era um camarada decidido”.
No final do ano de 67, em novembro, forma-se o M.I.A.
(Movimento Intersindical Anti-Arrocho) em São Paulo, e o pessoal de Osasco adere em massa, porém com uma
proposta ainda mais independente e radical, numa perspectiva militante e revolucionária. A experiência do M.I.A.
durou poucos meses, mas numa de suas assembléias, em dezembro de 1967, José Ibrahim e os representantes de
Osasco (a própria assembléia foi feita em Osasco) propõem uma ‘Carta de Princípios’, na qual havia uma proposta
arrojada: a da criação de uma Central Única de Trabalhadores que se encarregaria de uma grande campanha
contra o achatamento salarial nas diversas categorias de trabalhadores. O grupo também defendia a aliança
entre estudantes e trabalhadores e propunha que o 1º de Maio do ano seguinte fosse marcado por protestos e
boicote às festas promovidas pelos sindicatos pelegos.
E veio o 1º de Maio de 1968, que marcou a história de Osasco, de São Paulo e do País. Decididos a repudiar a
‘festa’ que a ditadura e o governador biônico Roberto de Abreu Sodré (nome dado aos Governadores indicados
pela Ditadura Militar, sem eleições) haviam preparado em conjunto com os sindicatos pelegos, os estudantes e
trabalhadores de Osasco realizaram uma ação de sabotagem da festa preparada pela ditadura na Praça da Sé. O
sindicato de Osasco teve uma participação significativa no boicote ao evento oficial da ditadura. Em primeiro
lugar, trabalhou a unidade das oposições sindicais para um ato unificado. Em segundo lugar, preparou uma intervenção
com a esquerda e seus aliados, desde a logística de mapeamento da Praça da Sé, seus lugares de entrada
e saída, trabalho feito pelo grupo de Osasco, e a criação de um grupo de auto-defesa, com 60 barras de ferro
Um Revolucionário Brasileiro 23
embrulhadas em jornal. A chegada do grupo de Osasco na Praça foi decisivo para romper o cordão de isolamento.
A tomada e a queima do palanque foram decisões acertadas com os estudantes de São Paulo.
Escondidos entre os trabalhadores presentes ao evento, o grupo de Osasco, acompanhado por outros membros
da Oposição Sindical em São Paulo, iniciou um tumulto em frente ao palanque, quando o governador já
estava no local. Abreu Sodré, seus assessores, os sindicalistas pelegos e até a polícia, foram todos expulsos do
palanque.
A ação decisiva de Zequinha Barreto e de seu companheiro Neto, garantiu a evacuação dos pelegos e o uso
da palavra por Zequinha e outros companheiros, que exigiram o fim da ditadura, apoio à revolução cubana, o fim
do arrocho salarial e apoio à greve de Contagem (MG).
Em seguida, após a destruição do palanque, todos saíram em passeata, liderados por Zequinha Barreto e outras
lideranças. Mais de 1.500 trabalhadores e estudantes rumaram da Sé à Praça da República. No caminho, gritavam
as palavras de ordem: ‘Abaixo a Ditadura’ e outras expressões contra o regime militar. Várias fachadas de
Bancos e empresas estrangeiras foram destruídas com pedradas.
Ao chegar na República, o grupo ouviu vários discursos.
O mais inflamado foi Zequinha Barreto, que provavelmente pela primeira vez em público no Brasil naquele
período, conclamou os trabalhadores e estudantes do País a enfrentarem a ditadura através da luta armada. Naquela
época, Zequinha já tinha uma vida dupla, exercendo algumas atividades na clandestinidade, como a preparação
da grande greve dos trabalhadores de Osasco, que seria realizada pouco depois. Segundo um de seus companheiros
mais queridos, Jesse Navarro (Zequinha viria a
24 Zequinha Barreto
usar um nome na clandestinidade, ‘Jesse’, em sua homenagem), uma vez, ao discutir com Zequinha, que preferia
a ação direta, sem se submeter a um partido ou direção, Zequinha defendeu a luta armada como justa na autodefesa
do povo: “Nós temos é que partir para a luta armada. A justa violência do oprimido contra a violência
do opressor”, afirmou Barreto.
A grande Greve
No dia 16 de julho de 1968 era deflagrada, às 8h45, a greve dos operários de Osasco, inicialmente na Cobrasma
e Lonaflex. Zequinha, que trabalhava na Braseixos, era um dos líderes do movimento. Os operários das fábricas
Braseixos, Barreto Keller, Fósforos Granada, Brown- Boveri, Ford e outras empresas também pararam as
máquinas no dia seguinte. Os trabalhadores ocuparam as fábricas e se prepararam para resistir. Estima-se que mais
de 6 mil trabalhadores cruzaram os braços entre os dias 16 e 17. Na pauta de reivindicações, um aumento de 35%
(trinta e cinco por cento), contrato coletivo de trabalho, readmissão de trabalhadores demitidos, entre outras.
No mesmo dia do início da greve, a Força Pública (PM) foi chamada e, com a ajuda do 2º Exército, cercou as
fábricas, exigindo a retirada dos trabalhadores. O aparato da repressão era enorme. O coronel Antonio Ferreira
Marques, comandante da Força Pública do Estado de São Paulo e o general Silvio Correia de Andrade, delegado da
Polícia Federal de São Paulo foram pessoalmente comandar as operações da repressão em Osasco. 150 investigadores
do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), chefiados por 5 delegados também participavam da
operação, além de dezenas de viaturas da Rádio-Patrulha, três veículos blindados do exército, sendo dois ‘Bru
Um Revolucionário Brasileiro 25

cutus’ e um ‘Tatu’, tropas de choque e cavalaria, num total de 1.500 soldados mobilizados, conforme noticiou
a Folha de S. Paulo, em 17 de julho de 1968. O governador biônico (nomeado pela ditadura) Abreu Sodré, acatando
comando do presidente-ditador, General Costa e Silva, deu a ordem e as fábricas ocupadas pelos trabalhadores
foram invadidas com grande dose de violência.
Zequinha Barreto foi um dos últimos a resistir na Cobrasma, acabando preso. Ele ainda tentou dissuadir os
soldados a não invadirem a fábrica, fazendo discursos sobre a luta de classes e que os militares também eram
filhos de trabalhadores, pregando a desobediência dos praças a seus oficiais. Não adiantou. Com rajadas de
metralhadoras e bombas de gás, aquela e as outras empresas foram desocupadas.
Zequinha faz a repressão ‘vacilar’
Em entrevista ao Boletim Unidade e Luta, sobre a greve da Cobrasma, José Ibrahim declarou: “O Barreto aproximou-
se da cerca e fez um discurso para os soldados, conclamando-os a não acatar as ordens, a não reprimir
os trabalhadores. Foi uma cena impressionante, toda a massa se colocou atrás dele e os soldados vacilaram. A
oficialidade da Força Pública teve que usar a firmeza para fazê-los avançar (…). Houve muito combate corpo
a corpo, os operários estavam dispostos a brigar (…). O Barreto foi preso quando estava dirigindo a fuga. Ele
havia se transformado no cabeça do movimento na Cobrasma, atraindo sobre si a atenção da polícia. Junto
com os outros companheiros, estava dando cobertura a um grupo de operários quando apareceu o pelotão da
Força Pública. Então o Barreto acendeu uma tocha, correu para perto do depósito de gasolina e gritou:
26 Zequinha Barreto
‘ – Ou vocês param ou vai todo o mundo para o inferno’.
O pelotão parou e todos conseguiram escapar. Ele pulou o muro por último, mas foi preso do outro lado,
porque a Força Pública já tinha se mobilizado para agarrá- lo”. Ao ser preso, Zequinha começou a cantar o Hino
Nacional, mas foi duramente reprimido para parar de cantar.
Na prisão, por diversas vezes usou essa tática ao ser interrogado. Ao invés de responder às perguntas dos torturadores,
cantava ou assobiava o Hino Nacional, ou respondia em inglês, irritando seus inquisidores.
Na verdade, a atitude de Zequinha, de ameaçar explodir a fábrica, não foi um ato inconseqüente e radical, mas
um símbolo e exemplo de resistência. A tática tinha o fim exclusivo de evitar a prisão de dezenas de companheiros,
enquanto fugiam no momento da invasão da polícia. Durante a ocupação, pelo contrário, um grupo de segurança
foi constituído por trabalhadores para darem proteção a um tanque de 25 mil litros de gasolina que existia na fábrica.
Inclusive os operários que atuavam no forno de alta pressão foram autorizados a manter o serviço, a fim
de não prejudicar a fundição de toneladas de aço.
Prisão e torturas
Da fábrica, Zequinha saiu diretamente para a prisão, sendo fichado pelo DEOPS (Departamento Estadual de
Ordem Política e Social), permanecendo preso por 98 dias, onde sofreu torturas para entregar os nomes dos
organizadores da greve. As intimidações foram em vão.
Zequinha não entregou nenhum companheiro, suportando as torturas e o período de mais de três meses de prisão.
A greve de Osasco iniciou-se na Cobrasma (2.500 operários), depois na Braseixos (700 operários) Lonaflex
Um Revolucionário Brasileiro 27
Na madrugada de 16 para 17 de julho de
1968, Zequinha é preso após dar
cobertura à fuga de dezenas de
companheiros na ocupação da Cobrasma
Na madrugada de 16 para 17 de julho de 1968, Zequinha é preso após dar cobertura à fuga de dezenas de companheiros na ocupação da Cobrasma 28 Zequinha Barreto (500), Barreto-Keller (100), Osran (150), Fósforos Granada, Brown-Boveri e outras empresas de médio porte, além de uma pequena empresa de madeiras. Pelo menos duas fábricas, a Cobrasma e a Lonaflex foram ocupadas pelos trabalhadores. A idéia era a de espalhar o movimento para os bairros do Jaguaré e da Lapa, ‘incendiando’ e espalhando a Greve para São Paulo, numa concepção de ‘organização político-militar’, como afirmou José Ibrahim em entrevistas posteriores. A VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e o Movimento Estudantil já mantinham contatos com os Operários de Osasco em sua luta, inclusive participando direta ou indiretamente e dando cobertura aos grevistas, como no caso da vigilância armada externa nas fábricas ocupadas. O próprio Zequinha Barreto era um operário-estudante, com forte inserção na juventude, e depois caminhou para a clandestinidade e a luta armada.
A repressão aos grevistas foi a maior da história do país até então. O governo decretou intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos e ocupou militarmente o local, expulsando os operários que se encontravam em Assembléia Permanente. Durante a greve, mais de 500 trabalhadores foram presos, e alguns permaneceram vários dias na prisão. Um padre estrangeiro que apoiou a greve foi preso e expulso do País. Zequinha Barreto foi o que permaneceu mais tempo na cadeia (mais de 3 meses), tendo sido incurso na LSN (Lei de Segurança Nacional). O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, José Ibrahim conseguiu romper o cerco, com a ajuda de um jornalista, deixando o bairro e a cidade de Osasco.
O Ministro do Trabalho nomeado pela ditadura, coronel Jarbas Passarinho chegou a ir pessoalmente a Osasco para tratar da greve (intervenção no Sindicato), e como o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos estava interdita
Um Revolucionário Brasileiro 29
                                         
Na Cobrasma,
a polícia
usou de
violência
para desocupar a f
ábrica 
A Lonaflex  foi ocupada pela polícia por vários dias,
intimidando e impedindo os trabalhadores
de reocuparem o local.
30 Zequinha Barreto

do, a reunião ocorreu curiosamente na sede do Sindicato dos Químicos, no Km 18. A partir das ordens do Ministro, vários locais da cidade foram invadidos, inclusive a Igreja de Santo Antonio, em busca das lideranças, muitas das quais acabaram na prisão, quando tentavam reorganizar o movimento operário da cidade. Anos depois, em 1980, segundo Orlando Miranda, Jarbas Passarinho teria dito a José Ibrahim em um debate na sede do Jornal Folha de S. Paulo, que “a greve de Osasco, por sua gravidade e violência, fora um dos fatores determinantes da edição do Ato Institucional nº 5”. O ‘AI-5’, como ficou conhecido, fechou o Congresso Nacional e determinou a cassação dos direitos políticos de dezenas de brasileiros, ficando também conhecido como ‘Golpe dentro do Golpe’, ou simplesmente o endurecimento do regime militar, que a partir dali se tornaria cada vez mais opressivo e violento. 
Repercussão no País
e apoio da Classe Teatral
Segundo um boletim divulgado em agosto de 1968, do Partido Comunista em Osasco, a greve na cidade alcançou repercussão nacional. Diz o texto: “Líderes sindicais de São Paulo, ABC, Campinas e outras cidades foram a Osasco ajudar os grevistas e colocar as sedes dos seus sindicatos à disposição dos mesmos. A Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) mandou um dos seus
representantes. Os padres de várias Igrejas de Osasco deram apoio à greve e condenaram a violência do governo.
Deputados Federais e líderes sindicais da Guanabara (atual Rio de Janeiro) foram a Osasco dar solidariedade.
Sindicatos de várias cidades, inclusive da Guanabara lançaram manifestos a favor dos operários.
Um Revolucionário Brasileiro 31 Teatros de São Paulo decidiram dar metade das receitas de domingo (21/07/1968) em auxílio aos grevistas e os estudantes secundaristas e universitários de São Paulo, Guanabara e outras cidades realizaram assembléias, comícios e passeatas, e arrecadaram dinheiro do povo em solidariedade aos grevistas.
Em São Paulo, em apenas um dia, líderes sindicais arrecadaram dois milhões de cruzeiros velhos para os trabalhadores em greve. Várias instituições e personalidades políticas de Osasco ajudaram os grevistas. E houve muitas outras manifestações de apoio”.
Com o grande apoio público aos grevistas de Osasco, mesmo com os ataques da imprensa, o governo recuou de sua decisão inicial de reprimir e processar a todos, inclusive quem apoiasse o movimento.
O Ministro do Trabalho determinou que o Delegado da DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho), general Moacyr Gaya negociasse com os grevistas para a solução definitiva do impasse. Segundo o informe do PC de Osasco, “depois de vários dias de negociações que contaram inclusive com a participação do Cardeal de São Paulo, Dom Agnelo Rossi chegou-se ao seguinte acordo: uma comissão do DRT reexaminaria a intervenção do Sindicato dos Metalúrgicos (mantida posteriormente); os dias de
greve não seriam descontados; não haveria demissões em massa; cerca de quarenta operários demitidos
receberiam suas indenizações.
Posteriormente, embora sem um acordo formal com os operários, as empresas de Osasco (inclusive algumas onde não houve greve) decidiram aumentar os salários dos operários a partir do mês de agosto.
Esse aumento variou entre 10 a 15% (sem computar os 10% do abono de emergência)”.
32 Zequinha Barreto
Habeas Corpus e liberdade para
Zequinha após quase 100 dias de
prisão
Durante sua prisão de quase 100 dias, Zequinha Barreto sofreu torturas e interrogatórios. Por várias vezes, seus advogados tentaram soltá-lo mediante pedidos de ‘habeas corpus’, sem sucesso. Os órgãos judiciais da repressão insistiam em enquadrar Zequinha pela LSN (Lei de Segurança Nacional). Porém, ao chegar um novo pedido de ‘habeas corpus’ para Zequinha (de nº 2.679), o Ministro do STM (Superior Tribunal Militar), general Peri Bevilaqua, contestou em seu relato a legalidade da prolongada prisão de Zequinha.
Diz o relatório do general, datado de 27 de setembro de 1968: “A greve proibida em que tomou parte o paciente não pode enquadrar-se no art. 38, item V, do Decreto- Lei nº 314/67 que cogita de crimes contra a segurança nacional. Com efeito, basta ler o preâmbulo do artigo em apreço para ver que a matéria não é da competência da autoridade militar, nem da Justiça Militar.
É assunto do Ministério do Trabalho, através da Delegacia Regional do Trabalho, de São Paulo, e da Justiça Federal. Diz o art. 38: ‘Constitui, também, propaganda subversiva, quando importe em ameaça ou atentado à segurança nacional: …… V – a greve proibida’.
Ora, numa greve pacífica de 10 mil operários metalúrgicos numa coletividade de 230 mil metalúrgicos e numa população de cerca de 1 milhão de operários, em que pode constituir ameaça ou atentado à segurança nacional?.
O assunto se enquadra, pois, em Lei de Greve e não em Lei de Segurança Nacional. É flagrante a incompetência da Justiça Militar para processar e julgar o grevista paciente deste h.c.”
Um Revolucionário Brasileiro 33
Com o parecer do general Bevilaqua, Zequinha deixou de ser enquadrado por crime contra a segurança nacional, e foi solto alguns dias depois.
Por sua postura arrojada e democrática neste e noutras dezenas de processos de presos políticos, o general Peri Bevilaqua acabou sendo afastado do Superior Tribunal Militar, do qual havia sido ministro de 1965 a 1969.
Seu afastamento se deu pouco antes de sua aposentadoria, com base no AI-5. Ele perdeu seus direitos, inclusive suas condecorações militares. O general Bevilaqua deu paracer favorável a vários presos e perseguidos pela ditadura militar, de nomes ‘ilustres’, como Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, José Dirceu e Vladimir Palmeira, entre outros. A história peculiar deste general democrático está retratada no livro ‘Justiça Fardada’, de Renato Lemos (editora Bom Texto, 2004).
Balanço da Greve: o fim do sonho de
organizar os trabalhadores pela via
sindical e democrática
Além do apoio indireto da VPR à greve em Osasco (que depois recrutaria vários de seus líderes, inclusive Zequinha Barreto), muitas organizações de esquerda apoiaram os trabalhadores: comunistas, católicos progressistas, trotskistas, Polop (Política Operária), AP (Ação Popular), entre outras.
Em outubro de 1968, após sair da prisão, Zequinha Barreto e José Ibrahim escreveram um texto sobre o balanço da greve de julho em Osasco. No final, a reflexão é encerrada com os seguintes dizeres: “Esta é a experiência dos trabalhadores de Osasco. O objetivo deste documento é fornecer dados de análise a toda a vanguarda
34 Zequinha Barreto
revolucionária brasileira, na luta pela transformação social, pelo socialismo”. Como se trata do único material escrito pelas mãos do próprio Zequinha, demonstrando em suas entrelinhas sua própria concepção de mundo, revolucionária e socialista, transcrevemos agora a íntegra do documento de balanço da grande greve de Osasco:
“MANIFESTO DE BALANÇO DA
GREVE DE JULHO” (de 1968)
“Companheiros,
Conscientes de que vivemos sob uma ditadura de classes que precisamos destruir.
Conscientes de que ao longo de nossas lutas temos cometido erros e precisamos encontrar uma forma de organização eficaz.
Conscientes de que só com a violência justa dos explorados, contra a violência injusta de que somos vítimas, e que iremos destruir a ditadura dos patrões e implantar uma sociedade sem classes.
Sabendo que para atingir o nível de organização que precisamos, temos a cada momento analisar criticamente nossos trabalhos.
Reconhecendo para isso a importância da troca de experiências e, nesse sentido relatamos aos companheiros alguns pontos de vista sobre o movimento operário e nossa experiência recente.
Reconhecendo ainda a superficialidade deste documento, que só visa incentivar a discussão, informamos que estamos preparando um balanço sobre nossas experiências nos comitês de empresas, no sindicato, sobre organização de greves e ocupações de fábricas.
Conclamamos todos os companheiros a discutir nossas experiências, esperando com isso, além de receber
Um Revolucionário Brasileiro 35
críticas, iniciar uma proveitosa troca de experiências, para a organização da classe operária que possa, aliando- a aos camponeses, conduzir o proletariado ao poder.
A LUTA ANTI-ARROCHO E
A GREVE DE OSASCO
Considerações sobre o arrocho.
O arrocho não surgiu com o golpe de 64. Antes de 64, o poder político representava os interesses dos patrões e era dominado pela minoria totalitária patronal. Acontece que, com o golpe, o arrocho apenas acentuou-se. Ele não se manifesta somente na política econômico-financeira do governo, mas em todos os setores da vida nacional, e todas as formas de repressão, quer o terrorismo cultural, quer o arrocho salarial, quer a Lei de Segurança Nacional, o acordo Mec-Usaid, a Lei Suplicy, etc, são formas de arrocho. Em suma, arrocho é o termo que o povo brasileiro encontrou para caracterizar a ditadura dos patrões.
Vejamos alguns objetivos e características dessa política:
a) Contenção da inflação, tomando-se por base que ‘o aumento dos níveis salariais é que inflaciona a economia do País’. b) Jogar nas costas do povo o ônus da crise do capitalismo.
c) O congelamento dos salários é uma forma de aumentar a taxa de lucro dos patrões sem acarretar grande aumento nos preços dos produtos.
d) Enquadramento do país dentro do esquema do capital internacional e submissão de nossa economia dentro do espírito de que ‘o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil’. Essas medidas são necessárias ao capitalismo, em sua
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fase mais adiantada, o Imperialismo, para sustentar materialmente a repressão necessária contra a revolução proletária mundial. Como exemplo disso temos a agressão de que é vítima o heróico povo do Vietnã. Por outro lado as mesmas medidas intensificam as contradições entre as massas exploradas e a classe dominante.
Logicamente, essas medidas que vieram adaptar o país dentro da realidade internacional do capitalismo, têm as suas conseqüências no plano interno:
a) Diminuição do poder aquisitivo do povo e, conseqüentemente, a estagnação do mercado interno.
b) Proletarização de grande parte da pequena burguesia.
c) Falências das pequenas indústrias, que vão sendo engolidas pelos grandes trustes internacionais.
O REFORMISMO E O MOVIMENTO
OPERÁRIO ANTES DE 64
Antes de 64, a chamada ‘burguesia nacional’ reformista e liberal, acenava com reformas de base e as massas dirigidas por elementos conciliadores e também reformistas iam a reboque.
A burguesia reformista atrelou a seu carro instrumentos de lutas das massas como o PC, os sindicatos, etc., e moldou lideranças hoje reconhecidas pela massa como pelegos, traidores e reformistas. Esses conciliadores não necessitavam organizar a massa para fazer suas ‘jogadas’ nas cúpulas e ‘não entenderam’ que as contradições existentes na sociedade capitalista só podem ser resolvidas pelo proletariado, sob a condução da vanguarda, com um programa socialista e revolucionário, sendo, pois necessário educá-lo, organizá-lo e conduzilo para essas tarefas. A burguesia reformista queria resolver sua contradição com o imperialismo sem mudar
Um Revolucionário Brasileiro 37
a estrutura social, e a liderança revisionista mais uma vez ‘não compreendeu’ que essa contradição é secundária e nunca poderia chegar a uma forma de antagonismo, pois a contradição fundamental reside entre o capital e o trabalho, sobre as forças que produzem a riqueza (os operários) e aqueles que detêm os meios de produção (os patrões), entre o caráter social da produção e a apropriação individual dos produtos do trabalho, e que com o avanço do movimento de massas os setores mais reacionários da burguesia procurariam cortar esse processo, antes que surgisse do seio da massa uma nova liderança capaz de dirigi-la para objetivos superiores aos da reforma dentro da estrutura capitalista.
MOVIMENTO OPERÁRIO PÓS-64
Após 64, com o golpe militar de direita, o reformismo, representado pela ‘burguesia nacional’ e cujos órgãos PTB, PCB, PSB, Sindicatos, etc., eram sua base social, é alijado praticamente do cenário político. Desencadeia- se no País uma campanha ‘fascistóide’ de perseguição aos elementos tidos como subversivos. Muitos fugiram, outros caíram presos, houve aqueles até que foram assassinados.
O governo teve nesse primeiro momento a intenção de golpear profundamente a classe operária. No entanto, impossibilitado de realizar tal política, eis que não tinha base social de sustentação (a pequena burguesia que dois meses antes tinha marchado com Deus pela família e pela liberdade, abandonou Castelo Branco sozinho na Praça da Sé no Primeiro de Maio).
E além disso, tendo em vista a necessidade de órgãos que sirvam de válvulas de escape aos reclamos do povo, numa tentativa de evitar a organização clandestina da classe, permite eleições nos sindicatos. A liderança que
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teve condições de participar das primeiras eleições sindicais foi apenas aquela que trazia as mesmas posições conciliadoras de antes de 64. Agora havia uma diferença:
não tinha mais a burguesia reformista para se apoiar, e o proletariado, devido às amargas experiências do passado, aprendeu a lição.
A primeira tentativa dessa ‘nova liderança’ no sentido de poder aparecer perante a massa como alguém que luta por seus interesses, foi na campanha pró-estabilidade e contra o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
Uma outra coisa foi a resistência que os trabalhadores fizeram para não assinarem a ‘nova lei’, percebendo, inclusive, as razões pelas quais os patrões tanto se interessam pela opção pelo FGTS. A experiência ensina à classe que se o patrão diz que determinada lei é benéfica aos operários, o correto é exatamente o inverso da moeda, isto é, o que é bom aos olhos dos patrões é nocivo aos trabalhadores.
A queda da estabilidade, que havia sido conseguida à custa de luta, contrariou profundamente, os operários, porém os pelegos não organizaram as massas, daí não se ter tido condições para movimentos capazes de derrubar o FGTS.
O arrocho salarial já fazia sentir as suas conseqüências funestas para os trabalhadores. O desemprego e arbitrariedades patronais acentuavam-se. A classe movimenta- se sem encontrar ainda uma centralização. Surge uma nova oportunidade de os pelegos aparecerem perante a massa. É criado o M.I.A. (Movimento Intersindical Anti-Arrocho), órgão intersindical de luta contra o arrocho. Porém, os pelegos são derrotados com seu palavreado macio e seus métodos de luta conciliadores, portanto insuficientes para conduzir a luta da classe, tais como abaixo-assinados, telegramas, entrevistas com
Um Revolucionário Brasileiro 39
as autoridades, etc. Em cada concentração operária, a vanguarda surgida nas fábricas aparece com palavras de ordem de organização pela base através de comitês de empresa pregando a greve como forma de luta contra o arrocho. Essa vanguarda aglutinou-se objetivamente em torno do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco.
Os metalúrgicos de Belo Horizonte responderam a essas palavras de ordem com a greve de onze dias, que se iniciou na Belgo-Mineira, estendendo-se a 16.000 operários.
O surgimento da vanguarda operária nas fábricas, merece um estudo mais profundo, pois ela é produto da necessidade da massa nesta etapa, apesar de exprimirse ainda de maneira obscura. Como vimos, a liderança pelega não convenceu. A contradição entre o caráter social da produção e o caráter individual de sua apropriação, isto é, a necessária concentração de operários para produzirem em grande escala e de forma organizada, onde cada um cumpre a sua função, e a maneira desorganizada de como os produtos são distribuídos na sociedade, onde a minoria patronal fica com os lucros, gera uma luta constante e intensa entre operários e patrões que vai desde as formas mais simples até os choques mais diretos e violentos, em torno de inúmeros problemas que variam desde as reivindicações específicas de cada secção até as lutas que atingem toda a classe.
A massa com seus inúmeros problemas encontra as mais variadas formas de exprimi-los, que vão desde contatos individuais até as formas coletivas e mais amplas de discussões nas fábricas. De lutas como preservação do 13º Salário em 64, por problemas específicos de cada fábrica (segurança, higiene, etc) levando os operários às greves parciais, inclusive logo após o golpe, surgem aqueles que por melhor absorverem e entenderem a ne
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cessidade da classe e por se destacarem na condução destas lutas, passam a merecer a sua confiança, e a partir disso são impulsionados a conduzi-la para a solução de suas necessidades e problemas do momento. Esse processo de luta é a ‘escola de guerra’.
Nas reivindicações da classe operária manifestam-se sempre as contradições dela com sua antagônica no poder.
Neste processo, a vanguarda tem consciência de que o que interessa à classe operária não são apenas as concessões dos exploradores, na medida em que continuará sendo explorada, mas a destruição de toda a estrutura social que possibilita a exploração.
Entretanto, a vanguarda organiza a classe, a educa e ganha sua confiança nestas lutas parciais. As vitórias obtidas nestas lutas estimulam a classe a prosseguir com reivindicações mais avançadas e dá confiança a esta mesma vanguarda, que compreende, também, a necessidade de uma organização de classe que vise a tomada do poder pela classe, com uma visão do contexto social capaz de avaliar as forças e capaz de conduzir a classe em todos os níveis de sua luta até a tomada do poder.
A tradição de luta da classe operária brasileira é quase que só em torno do movimento sindical e, a vanguarda que surge, dada a ausência de uma organização de classe sob um programa revolucionário capaz de desenvolver as formas de luta que a conduza ao poder, acerca- se de sindicatos e aí então surge o choque entre as direções sindicais pelegas e aqueles que têm ligações com a classe. São as chamadas oposições sindicais.
As oposições sindicais lançam as palavras de ordem de organização pela base através dos C.E. e empreendem vigorosa campanha contra os pelegos sindicais.
Muita coisa já se conseguiu de concreto com os trabalhos das oposições, principalmente nas assembléias anti
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arrocho programadas pelo MIA e na comemoração do último Primeiro de Maio na praça da Sé. Essas palavras de ordem, por não virem acompanhadas de uma teoria programática que apresentasse concretamente as perspectivas e a concepção de tais formas de organização na prática, caem no vazio. Nos setores onde existem os C.E., estes não funcionam como devem, isto porque foram formados na ‘base’ da improvisação, contendo uma série de desvios, o que prejudica muito a unidade da luta. Temos vários exemplos que demonstram, por um lado o espírito de luta e o sentido revolucionário da vanguarda e, por outro, mostra a sua imaturidade política e inexperiência na organização da classe.
A GREVE DE OSASCO – BALANÇO CRÍTICO
Antes de analisarmos o que foi a greve de Osasco e o que ela representou para o M.O. é necessário definir o que é uma greve.
O operário recebe um salário pelo trabalho que executa para o patrão. É lógico que o interesse do patrão é pagar menos salários para que seu lucro seja maior. Por outro lado, o operário que só tem a sua força de trabalho para vender, procura vendê-la pelo preço mais alto.
Um operário isoladamente não tem condições de fazer frente à ambição patronal e a única forma de evitar que seu salário seja rebaixado ou conseguir que estes sejam aumentados, é unir-se com outros operários que são vítimas da mesma exploração. A forma de se encaminhar esta luta é paralisando o trabalho para conseguir as reivindicações.
As greves surgem da própria sociedade capitalista, é uma forma bem simples em que se expressa a luta de classes. As greves mostram aos operários a sua força e também as do patrão. Mostram que o patrão é seu prin
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cipal inimigo e que o governo protege sempre os patrões e que também a polícia existe para impedir as greves ou evitar as suas conseqüências.
A colocação da palavra de ordem ‘greve’, mostrou para a vanguarda operária de Osasco o estado de revolta da classe, motivado pelas conseqüências do arrocho salarial e alta constante do custo de vida e que realmente haviam as condições objetivas para deflagrar o movimento.
Todos lançaram-se na organização da greve empiricamente.
Os C.E. recém-organizados, com exceção dos da Cobrasma, tinham a principal responsabilidade nessa tarefa. Reivindicava-se aumento salarial de 35%, aumento de três em três meses de acordo com a elevação do custo de vida, contrato coletivo de trabalho por dois anos, e reivindicações específicas de cada fábrica.
A vanguarda baseava-se nas necessidades imediatas da massa, por isso as reivindicações acima citadas, mas, por outro lado se explicava que o sentido mais importante da greve era o político, na medida em que se lutava contra a lei do arrocho salarial e contra a própria lei de greve, e que aquela ação era apenas uma parte da longa luta pela derrubada da ditadura dos patrões.
Evidencia-se inexperiência dessa nova liderança na medida em que essa não soube conduzir no mesmo nível a propaganda junto às massas e a organização da vanguarda.
Este descompasso entre a propaganda e a organização precipitou as condições objetivas para a greve.
Empolgada com a receptividade das massas, a vanguarda acaba por ficar a reboque destas, e ao invés de proceder uma análise do momento político nacional, baixou a palavra de ordem da greve e de ocupação das fábricas, sem estar subjetivamente em condições, antecipando mesmo uma posição anterior de se tirar a greve por ocasião do dissídio coletivo. Dado o caráter ainda
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bastante limitado dos C.E., visto que funcionavam sem uma perspectiva clara e definida, estes passaram a se apoiar mais no aparelho sindical do que na organização da massa. A falta de clareza teórica causada pela falta de discussão política levou a vanguarda a não se preocupar em organizar uma estrutura clandestina paralela ao sindicato para dar continuidade à luta na clandestinidade.
Na prática, subestimou as forças da repressão, achando que o governo iria negociar e não reprimir violentamente, nclusive intervindo imediatamente no sindicato.
Comparou-se o M.O. que tem conseqüências imediatas na economia e prepara a classe revolucionária para assumir a direção do país, e por isso é bastante temível pela reação, com movimentos de setores da pequena burguesia (estudantes, artistas, etc.) que por maiores perigos à classe dominante. Esse imediatismo foi sentido em todos os momentos posteriores, o que obrigou a improvisação.
A ocupação das fábricas devido à falta de clareza, à não planificação, foi também improvisada, deu à greve um caráter insurrecional, quando a mesma era localizada e feita a partir de reivindicações de classe e não a partir de imposições que a colocasse num enfrentamento definitivo com a burguesia. Com isso não queremos dizer que nas próximas lutas a tática de ocupação de fábricas não deva ser utilizada.
No passado, antes de 64 a pelegagem decretava greves e mandava os operários para suas casas. Agindo assim, desmobilizavam a classe, evitando que ela se mantivesse unida e discutindo problemas que lhe estavam afetos, para que os conchavos com os patrões não encontrasse resistência nas bases operárias. A outra importância da ocupação reside no fato que as greves
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com as ocupações das fábricas, experiência recém-iniciada no Brasil, ultrapassam os limites das reivindicações normais dentro do capitalismo. Independentemente das reivindicações grevistas, a ocupação temporária das empresas acerta um golpe no ídolo da propriedade capitalista.
Toda greve de ocupação, independente do objetivo reivindicatório que a determinou, coloca na prática o problema de saber quem é o dono da fábrica: o patrão ou os operários. A ocupação poderia se dar com um prazo determinado, objetivando discussão política com toda a massa no sentido de se ter consciência do próprio significado das ocupações, sobre os objetivos da greve e a necessidade de sua extensão a outras fábricas.
Quando as fábricas fossem desocupadas, a massa deveria sair mobilizada para ações práticas como piquetes, panfletagem, etc, em outras fábricas ainda não em greve, e através da organização por bairros permaneceria em constante mobilização, objetivando discussão política, em grupos pequenos se assim o exigissem as condições de segurança.
A greve de Osasco mostrou que é possível conduzir a classe para um enfrentamento com a ditadura patronal, sendo para isso necessário organizá-la. Significa uma nova e grande experiência para todo o movimento revolucionário brasileiro.
Apesar de ter sido propagado pela imprensa burguesa e alguns oportunistas de ‘esquerda’ que a greve de Osasco não havia conseguido nenhum de seus objetivos, há fatos que falam bem alto para a massa: os aumentos recebidos pelos operários de várias fábricas (Cobrasma, de 15 a 35%, Cimaf 10%, etc), indenização aos companheiros demitidos, e o atendimento de reivindicações específicas como: higiene, segurança, insalubridade,
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enfermaria, etc., que vem se dando a partir da greve, deixa claro aos operários que: isto são vitórias parciais da greve; a greve é uma forma de luta para conseguirmos nossas reivindicações, pois se obtemos melhores resultados em nossa luta, necessitamos elevar o nosso nível de organização, e aumentar as discussões políticas para despertar a consciência de luta nos mais amplos setores da massa.
Com a greve, o sindicato caiu nas mãos de policiais, centenas de companheiros foram presos, dezenas perderam seus empregos, grande parte perdeu seus dias de trabalho, muitos companheiros estão na ilegalidade e apesar disso tudo, ninguém se arrepende de ter aderido à greve; aqueles que não aderiram ao movimento são desprezados pelos companheiros, o que não significa que para as próximas lutas não se deva discutir e aprofundar com eles no sentido de que avancem e participem do movimento.
Ficou claro para as lideranças que:
1) Apesar da repressão brutal que impossibilitou a extensão e continuidade da greve, a demonstração do nível de luta de classe, fez os patrões cederem em várias reivindicações.
2) A brutalidade da repressão foi prejudicial para o movimento em si, porém benéfica a longo prazo, dado o avanço político da massa, com o desmascaramento da ditadura, deixando claro que reprimirá violentamente qualquer luta justa da classe trabalhadora.
3) Na luta a classe elevou o seu nível de consciência devido à realização de assembléias, discussão política, possibilitando maior aceitação das palavras de ordem das lideranças, e o surgimento de novas lideranças, o que facilitou a organização dos mais amplos setores da massa, que vem se dando através da formação de núcleos clandestinos para discussão política e realização de ações práticas.
46 Zequinha Barreto
Apesar de tudo o que houve, a disposição de luta continua e isso nos permite dizer que ‘os homens que não se sujeitam e resistem a tais calamidades para quebrar a resistência de meia dúzia de burgueses, saberão sem dúvida também quebrar a força de toda a burguesia’.
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO DA LUTA
Os setores conscientes da classe operária, sua vanguarda, não podem ter mais dúvidas quanto à existência das condições objetivas de se fazer grves. Só falta criar condições subjetivas, que se resumem na organização da classe. Aproxima-se o dissídio coletivo para todas as categorias; sabemos que dentro das leis de arrocho o aumento não corresponderá nem à metade da elevação do custo de vida no ano de 68, isso sem contar o que perdemos nos anos anteriores.
Os pelegos sindicais, percebendo a disposição da classe, mais uma vez farão manobra para enganá-la, dizendo que ‘não entraremos em dissídio, exigiremos um aumento salarial digno e se não for concedido entraremos em greve’. Essa tática oportunista já é velha e também conhecemos a sua saída. Se o sindicato não entra em dissídio, o patrão entra, e daí eles dirão que ‘não estamos preparados para a greve, que ninguém tem o direito de, numa aventura, jogar pais de família no abismo, etc’.
Os pelegos para sobreviverem se apóiam na desorganização da classe. A vanguarda, para ser a direção autêntica da classe, deve organizá-la e apoiar-se na sua organização. O arrocho salarial está aí. A tática de combatê- lo é a greve.
No processo das greves, a vanguarda amadurecerá como direção, e a classe compreenderá que o arrocho é
Um Revolucionário Brasileiro 47
apenas uma faceta do poder patronal e que só ficará livre dos arrochos quando derrubar esse poder numa luta prolongada, debaixo de um programa socialista revolucionário de libertação.
A tarefa da vanguarda de cada categoria, de cada fábrica é preparar as condições subjetivas de organização, para com ou apesar dos pelegos, lutarmos concretamente por um aumento salarial menos injusto. Desde já deve-se iniciar a formação dos comitês de greves por secção, por fábricas e por municípios. Não devemos nos iludir nesta etapa com uma greve geral. Devemos sim, concentrar nossas forças nas fábricas onde existem melhores condições de greve.
Lembrem-se que a greve de 16.000 metalúrgicos mineiros, até o 6º dia só acontecia na Belgo-Mineira, e em Osasco a greve iniciou-se em quatro fábricas, estendendo- se só a partir do dia seguinte.
Uma greve apavora os patrões. (Quando a classe dos trabalhadores luta) para eles próprios, na medida em que lutam por seus interesses, ela (a greve) coloca em dúvida aqueles que se julgam senhores onipotentes dos meios de produção, ela leva os patrões a fazerem concessões e arrasta companheiros de outras fábricas à adesão, não somente em solidariedade, mas porque são vítimas da mesma exploração e são encorajados a tomar posição.
Os grevistas de Osasco e a sua vanguarda levam as seguintes reivindicações de caráter geral e as propomos a outras categorias na certeza de que vão ao encontro dos interesses de toda a classe:
a) Aumento salarial de acordo com a elevação do custo de vida.
b) Contrato coletivo de trabalho, isto como forma de combate ao desemprego.
c) Aumento salarial de três em três meses.


48 Zequinha Barreto
As reivindicações específicas de cada fábrica devem ser levantadas ‘in loco’ pelos companheiros, pois ajudará
muito na mobilização da massa.
PARALISAÇÃO
A paralisação de cada fábrica deve apoiar-se na organização dos Comandos Clandestinos internos. A forma de paralisação através de piquetes nas portas de fábricas está superada, o piquete deve ser fator de estímulo para que outros adiram ao movimento e não como fator de imposição no sentido de se aderir à greve.
A prática demonstrou que a forma mais correta e educativa para a massa é a greve partindo da organização interna através dos comandos clandestinos de cada secção, parando uma a uma, com a massa de cada secção para engrossar as fileiras e indo parar as outras. Isso funciona se existir organização, estimula os vacilantes e impede a identificação dos líderes. A saída das fábricas deve ser em massa, pois grupos isolados tornam-se presas fáceis para a repressão.
Os comandos clandestinos da greve devem ser organizados ao nível de cada secção, cada fábrica, cada município. Com o avanço do processo, será necessária a formação de comandos gerais, a fim de coordenar a luta em nível nacional.
Esta é a experiência dos trabalhadores de Osasco. O objetivo deste documento é fornecer dados de análise a toda a vanguarda revolucionária brasileira na luta pela transformação social, pelo socialismo.
José Ibrahim
José Campos Barreto
Outubro de 1968”.
Um Revolucionário Brasileiro 49
Acaba o sonho de organizar os
trabalhadores na legalidade
Após a construção do texto do ‘Balanço da Greve’, Zequinha e Ibrahim ainda nutriam esperanças de voltar a organizar os trabalhadores de Osasco para a greve do dissídio coletivo, no final de 1968. Porém, com a edição do AI-5 (Ato Institucional número 5) em dezembro, a única saída foi entrar para a clandestinidade e partir para a luta armada contra a ditadura militar, que começava a tornar-se ainda mais dura e sangrenta.
Ibrahim acabou na cadeia e depois foi um dos presos políticos a ser trocado pelo Embaixador Charles Elbrick, dos EUA (seqüestrado pela guerrilha urbana de esquerda).
Saindo da prisão, Ibrahim foi imediatamente deportado do Brasil, passando mais de dez anos no exílio, sem ousar voltar, mesmo na clandestinidade.
Zequinha entrou na clandestinidade e abraçou a guerrilha, selando seu destino, assassinado juntamente com o Capitão Lamarca, no sertão da Bahia, três anos depois.
Com a intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, os substitutos ‘fantoches’ da ditadura nunca mais conseguiram mobilizar os trabalhadores.
Por anos, as assembléias (mesmo as de cunho reivindicatório salarial) nunca atingiam mais do que 20 ou 30 participantes.
A ditadura militar conseguiu, naqueles ‘anos de chumbo’ praticamente desmontar a forte estrutura sindical de Osasco, até então uma das mais organizadas e politizadas do País. O mesmo ocorreu com o C.E.O. (Círculo Estudantil de Osasco), que desapareceu depois de 1968.
50 Zequinha Barreto
A luta armada na clandestinidade, a
fuga para a Bahia com o lendário
‘Capitão’ Lamarca e os últimos dias de
Zequinha
Segundo o irmão sobrevivente de Zequinha, Olderico Campos Barreto, em entrevista ao Instituto Zequinha Barreto (21/04/05), Lamarca já estava na clandestinidade, em plena luta armada, quando entra em contato com Zequinha Barreto pela primeira vez. Ambos já eram procurados pelos órgãos de repressão como ‘terroristas’. O Capitão Carlos Lamarca havia levado de seu próprio quartel, no forte de Quitaúna, em Osasco, uma Kombi cheia de armas e explosivos, após sair fardado da unidade, sem levantar suspeitas. Mergulhou na guerrilha e passou a ser o inimigo número um do exército e da ditadura, considerado o maior traidor das forças armadas, que devia ser caçado e morto a qualquer custo.
Segundo Olderico, “o saldo de 68, 69 e 70, era só perda; e quando Lamarca passa a querer repensar esse movimento, e encontra organizações como a ALN (Aliança Libertadora Nacional), que insistia num processo de luta armada, é que eles vão se encontrar no MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), o Larmarca e o Zequinha. E dessa discussão, eu comecei a participar, no MR-8, que tinha este nome em homenagem à data da morte de Che Guevara”. Olderico afirma que da terceira reativação do MR-8 participam Zequinha e Lamarca, onde permanecem até a morte de ambos na localidade de Pintadas, em Ipupiara, no sertão baiano, em 1971.
Lamarca, que havia ‘rachado’ com a VPR por entender que as ações armadas não deveriam ser o único objetivo da luta revolucionária, fica isolado no novo MR-8,
Um Revolucionário Brasileiro 51
Na Bahia, Zequinha e o Capitão Lamarca viajaram a pé, em condições precárias, cassados como animais pela repressão da ditadura militar juntamente com Zequinha Barreto e outros companheiros.
Com o cerco militar cada vez maior, Lamarca e Zequinha saem disfarçados de São Paulo, separadamente, ambos em direção à Bahia, para a terra dos pais de Barreto, com o objetivo de rearticularem a luta contra a ditadura, já que ambos se recusavam a exilar-se do País. Lamarca passa a ver na luta armada a partir da guerrilha rural, uma possibilidade real de resistência ao regime.
Guerrilha rural, uma alternativa
Zequinha propõe à organização (MR-8) a realização
de um trabalho político junto aos camponeses de sua ter
Na Bahia, Zequinha e o Capitão Lamarca viajaram a
pé, em condições precárias, cassados como animais
pela repressão da ditadura militar
52 Zequinha Barreto
ra natal, Buriti Cristalino (em Brotas de Macaúbas), com vistas à implementação da guerrilha rural. Juntam-se a ele seus irmãos Otoniel e Olderico, assim como Luiz Antonio Santa Bárbara, João Lopes Salgado e o Capitão Carlos Lamarca.
A decisão de ficar no Brasil e lutar até o fim, selaria o destino de todos, bem como da organização política que abraçaram. Conseguiram permanecer anônimos por algum tempo, mas logo alguns caboclos denunciam a presença estranha às forças militares da Bahia.
Em contato com o exército e o DEOPS de São Paulo, foi montada uma operação secreta da repressão, chamada ‘Operação Pajuçara’, para esmagar o MR-8 e matar o Capitão Lamarca. Zequinha permaneceu o tempo todo ao lado de Lamarca.
No sertão, por algum tempo Lamarca e Zequinha conseguiram ficar escondidos com a ajuda de moradores da região, devido ao carinho com que Zequinha Barreto era tratado. Muita gente admirava e respeitava aquele jovem ex-seminarista, que com seu carisma cativava a todos.
No jornal da UNB (‘Campus’, edição Especial – Novembro de 2000), uma passagem é reveladora a esse respeito:
“O vilarejo de Pé do Morro tinha um significado estratégico para Zequinha e Lamarca durante a fuga.
Cercado de montanhas onde poderiam se esconder, tem, ao mesmo tempo, água em abundância e pequenas propriedades agrícolas onde poderiam matar a fome. Sem contar que Zequinha conhecia todo mundo no local e era muito querido, como mostram até hoje os diversos testemunhos. É por isso que eles tentaram ficar por lá até que a repressão desistisse da caçada. Francisco Araújo Sobrinho, morador de Pé do Morro foi um grande aliado de Zequinha. Ele deixava os dois informados sobre a perseguição do exército. Quando inquirido pelos
Um Revolucionário Brasileiro 53
militares, dizia não saber o paradeiro dos guerrilheiros.
A milícia chegou a colocá-lo num helicóptero para fazer perguntas e intimidá-lo. ‘Eles ameaçavam de facão, mas
eu não tinha medo’, garante”.
O cerco do delegado torturador
Em 28 de agosto de 1971, o temido delegado da repressão, Sérgio Paranhos Fleury e seus comandados, cercam a cidade de Brotas de Macaúbas e invadem a casa da família Barreto, atirando com fuzis e metralhadoras. Olderico é ferido gravemente na mão e na cabeça. É feito prisioneiro, juntamente com seus irmãos. Outros são assassinados.
O pai, José Barreto, um homem idoso, é barbaramente torturado para entregar o local de esconderijo de Zequinha e do Capitão Lamarca.
Vendo a cena, outro irmão, Otoniel se desespera pelo sofrimento do pai e decide fugir. Apodera-se de uma arma, dispara contra os soldados e tenta correr em direção ao esconderijo para alertar o irmão e Lamarca, mas é ferido mortalmente com um tiro na cabeça.
Segundo reportagem da revista ‘Veja’, de 25/04/1979, citada no livro de Orlando Miranda, “desde esse dia (28/ 8/71) e até a morte de Lamarca e Zequinha, Buriti viveu um rigoroso ‘estado de sítio’. Ninguém podia sair de casa após as 18 horas. Durante o dia, quem saísse era seguido, do alto, por um helicóptero; se entrava em alguma casa da redondeza, o helicóptero baixava, descarregava policiais armados e iniciava-se o interrogatóro.
O inusitado da situação tomava formas diferentes nesse pedaço de sertão baiano. A cinco quilômetros de Buriti, por exemplo, o jegue de um sertanejo não cumpriu de pronto a ordem de parar, dada por seu dono em obediência aos policiais, e estes metralharam o jegue, pa gando depois uma indenização de 50 cruzeiros.
54 Zequinha Barreto
Em Brotas de Macaúba, na mesma época, o Juiz de Direito proibiu que o sistema de alto-falantes ‘Constelação’ tocasse
a música ‘E agora, José’, composta pelo baiano Paulo Diniz a partir de versos de Carlos Drummond de Andrade.
Temia-se que aumentasse, entre a população, a lembrança do Zequinha”.
Mais adiante, a reportagem da revista fala dos últimos passos de Zequinha e Lamarca no sertão da Bahia: “… Lamarca e Zequinha percorreram perto de trezentos quilômetros, em suas últimas semanas de vida (…) vagaram desorientados em sua fuga. Foram vistos, assim, no engenho Pau D’Arco, a doze quilômetros de Buriti, onde Lamarca disse a um grupo de trabalhadores: – ‘Meu nome é Lamarca. Meu inimigo é o governo. Estou precisando de ajuda’.
Os camponeses o ajudaram e, depois, passaram a informação à polícia. Seis quilômetros adiante, em Três Reses, descansaram numa propriedade dos avós de Zequinha.
Vários dias depois, pediram e não obtiveram ajuda de um médico de Ibotirama, a cem quilômetros de distância. Foram vistos, ainda, perto de Brejinhos: mais tarde em Canabrava e, três dias antes de sua morte, estiveram em Carnaúba, situada a vinte e cinco quilômetros do local de onde partiram. A essa altura, atacado pela asma e debilitado pelo esforço, Lamarca era carregado às costas por Zequinha. (…) Por fim os dois seriam localizados em Pintada, perto de Carnaúba”.
Zequinha e Lamarca caem juntos,
pelas mãos da ditadura
Em 17 de setembro de 1971, as equipes ‘Charles’ e
Um Revolucionário Brasileiro 55
‘Cão’, do grupo do major Nilton Cerqueira conseguem encontrar, cercar e matar a tiros o Capitão Lamarca e José Campos Barreto, por volta das 15h30. Os corpos foram expostos como troféus em Brejinhos e levados pelo exército num helicóptero.
No jornal dos estudantes da UNB (‘Campus’, edição Especial – Novembro de 2000) uma reportagem fala sobre o destino dos corpos de Zequinha e seus companheiros:
“No pequeno cemitério de Buriti Cristalino há um lugar para enterrar os restos de Otoniel e Zequinha, ao lado do pai Zé Barreto. Encostado no campo de futebol
Zequinha e Lamarca (acima) jazem no chão do
sertão baiano, pouco depois de serem assassinados
pela repressão, em 17 de setembro de 1971.
Corpo de Zequinha no IML de Salvador (BA)
no dia 18 de setembro de 1971.
56 Zequinha Barreto
que fica nos fundos da casa dos Barreto, o cemitério foi construído quando Lamarca estava na região. Foi depois de fugir do quintal da casa onde estava detido e atravessar correndo o campo debaixo de rajadas de metralhadora, que Otoniel caiu morto. Ele e Santa Bárbara foram desenterrados no dia seguinte, por ordem do comando da operação militar. Os dois corpos foram levados para Salvador no mesmo avião que conduziu Olderico Barreto preso (ele sobreviveu). Assim como o corpo de Zequinha, também levado para a capital da Bahia, os dos outros dois militantes nunca mais foram encontrados”.
Olderico Campos Barreto, que sobreviveu à invasão da casa dos Barreto, em 28 de agosto de 1971, conta como foi sua prisão: “Foi dentro de casa, depois de ter sido ferido. Tomei uma rajada de tiros que me pegou na mão e no rosto e me tirou os sentidos por algum tempo.
A minha atitude de atirar contra os homens que cercavam a casa do meu pai não foi de resistência, mas uma forma de avisar o pessoal que estava no acampamento (Zequinha e Lamarca estavam escondidos na mata, a poucos quilômetros do local). Fui preso, passei a ser torturado e brutalmente espancado, num processo que foi ficando cada vez mais sofisticado. Eles passaram a usar produtos químicos. Perguntavam se eu ia colaborar, se queria um tratamento de açougueiro ou um tratamento digno. Jogavam mertiolate na mão aberta pelos tiros. O rosto, costuraram na marra, sem anestésico nenhum.
Sentiam prazer fazendo essas coisas. Eu fui tratado simultaneamente por duas equipes que achavam que a outra era bunda mole. Quando a equipe de São Paulo me soltava, eu estava quebrado, então vinha a do Rio de Janeiro. Havia uma disputa entre eles para ver quem conseguia mais informações. Mas felizmente eu
Um Revolucionário Brasileiro 57
saí dali íntegro, o corpo todo quebrado, mas não a mente.
Depois de 49 dias no hospital da vila militar em Salvador, fui encaminhado para um local onde estavam vários presos políticos”. Sobre a localização dos corpos de Zequinha e Otoniel, o irmão sobrevivente Olderico, declara ao mesmo jornal da UNB: “Esta é ainda uma grande luta. Percorri todos os lugares possíveis e imagináveis em Salvador para ter notícias, mas não há qualquer registro de onde eles possam ter sido enterrados, se é que foram enterrados. Meu pai foi chamado a Salvador, mas não viu os corpos. E o lugar deles é lá no cemitério do Buriti Cristalino, ao lado do meu pai e outros parentes”.
Olderico Barreto ficou preso por mais de dois anos, enquadrado por dois artigos da Lei de Segurança Nacional (resistência armada e terrorismo). O enquadramento na LSN poderia render-lhe de 13 a 30 anos de prisão, mas depois a pena foi abrandada. Em 1979, com a Lei da Anistia, seu processo foi considerado extinto. Até hoje Olderico aguarda uma indenização do governo federal, que ainda não chegou.
A repressão acabou, seus personagens foram esquecidos.
Mas Carlos Lamarca e Zequinha Barreto, morto pouco antes de completar 25 anos (ele é nascido em 21/10/1946), jamais serão esquecidos, como verdadeiros heróis da luta pelo socialismo e pela liberdade no Brasil.
Resgatando a história de Zequinha Barreto, um Revolucionário Brasileiro Atualmente o Núcleo de Documentação e Memória Histórica do Instituto, um ‘braço’ do Núcleo de Biblioteca está organizando – pois este é um trabalho coletivo –
58 Zequinha Barreto
o levantamento histórico sobre a vida de Zequinha Barreto e de todos os que conviveram e lutaram ao lado dele, durante o breve espaço de tempo em que viveu.
Deste levantamento, o Instituto está preparando dois livros. O primeiro, que será na verdade um livreto, vai ser lançado em breve pela Editora Expressão Popular, dentro da Série: ‘Viva o Povo Brasileiro’. Este pequeno livro centrará suas atenções na militância revolucionária de José Campos Barreto.
O outro livro, que o Instituto pretende lançar até o final de 2007, será maior e tem a ambição de contribuir com o esclarecimento do processo histórico de toda uma geração de jovens de Osasco e região, que contribuíram decisivamente na luta contra a ditadura militar nos chamados ‘anos de chumbo’.
Abordará as grandes greves dos trabalhadores de 1968, do 1º de Maio na Praça da Sé em 1968, quando os trabalhadores expulsaram o governador biônico de São Paulo do palanque, e outros episódios que refundaram o movimento sindical e operário brasileiro.
A memória dos sobreviventes daquele período também será recuperada, através de uma série de entrevistas gravadas que já estão sendo realizadas (já foram entrevistados Olderico Campos Barreto e Roque Aparecido da Silva). Por fim, serão reconstituídos os últimos passos de Zequinha Barreto e Carlos Lamarca, de São Paulo ao sertão baiano, no Buriti Cristalino (localidade de Pintadas), onde ambos tombaram em 1971.
Também está sendo preparado o roteiro de um filme de longa metragem (documentário, com partes dramatizadas) sobre a vida de Zequinha Barreto. O projeto depende da captação de recursos financeiros.
Um Revolucionário Brasileiro 59
Nasce o Instituto Socialismo e
Democracia José Campos Barreto -
‘Zequinha Barreto’
A partir da iniciativa de militantes do movimento popular e sindical de Osasco e região, comprometidos com a luta pelo socialismo, foi constituído em 14 de junho 2003 o instituto Zequinha Barreto, cujo objetivo principal tem sido promover a divulgação das idéias socialistas, bem como a trajetória de lutas de militantes que dedicaram a vida pela revolução socialista.
O Instituto Zequinha Barreto é um espaço socialista e plural, ou seja, participam militantes das várias correntes socialistas do movimento sindical e popular, sendo que sua diretoria é colegiada e os núcleos e grupos de trabalho são abertos à participação de todos aqueles que tenham compromisso com os objetivos do instituto.
Entre os objetivos do Instituto Zequinha Barreto destacam- se a promoção de debates, cursos e seminários sobre o socialismo e democracia, buscando elevar os conhecimentos e a consciência socialista e democrática dos trabalhadores, da juventude e da população, além de apoiar, incentivar e divulgar as lutas populares. Também é um espaço de atividades culturais com cursos e eventos de teatro, música, dança, pintura, exposições artísticas e resgate da memória social e cultural da região.
Biblioteca Arcênio Rodrigues da Silva, uma referência em livros que registram a História e os grandes debates da luta
Socialista no Brasil e no mundo A primeira iniciativa da militância que participa do Instituto Zequinha Barreto foi a de construir uma biblioteca popular, com um acervo significativo, hoje estimado 60 Zequinha Barreto em mais de cinco mil livros, jornais, revistas, cadernos de formação política e DVD’s e CD’s, que ajudam na formação socialista e cultural toda população, especialmente da juventude.
Para manter a coerência em relação ao regate da memória operária e das lutas e dos lutadores socialistas da região de Osasco, o nome da Biblioteca foi dado a Arcênio Rodrigues da Silva, uma homenagem ao camarada que sempre teve esse sonho (o resgate histórico da luta do operariado de Osasco, com uma biblioteca para o sindicato e a população do entorno).
Em 1998, Arcênio apresentou no Sindicato dos Químicos a história de Zequinha Barreto, e a família de Zequinha, bem no início, quando um grupo ligado ao Sindicato estava fazendo a pesquisa (sobre a vida de Zequinha Barreto), sem ter ainda a idéia da criação do instituto Zequinha Barreto; havia apenas o sonho de lançar um livro. Mas esse camarada, que é Arcênio Rodrigues da Silva, assim como Zequinha Barreto, conquistaram na luta, na coerência e no compromisso com a revolução socialista, um lugar na história da luta dos trabalhadores e trabalhadoras da nossa região e do País.
Para manter sua coerência em relação ao resgate da memória das lutas e dos lutadores socialistas da região de Osasco, a criação da Biblioteca foi uma justa homenagem a um camarada que dedicou toda sua vida à revolução socialista, que se tornou uma referência para aqueles que entendem que a consciência socialista é forjada nas lutas sociais e nos enfrentamos contra os poderosos que oprimem e exploram os trabalhadores do povo.
Assim, a primeira Biblioteca Popular da nossa região, foi uma homenagem a Arcênio Rodrigues da Silva, que assim como
Zequinha Barreto é um exemplo para todos aqueles que militam no movimento operário e socialista nesta região.
Um Revolucionário Brasileiro 61
Arcênio: Companheiro,
amigo, camarada
A Biblioteca do Instituto Zequinha Barreto recebeu o nome de Arcênio Rodrigues da Silva, por sua militância e luta em defesa dos trabalhadores. Arcênio morava no Jaguaré, no “porão do Rodolfo”, quando acontece a greve em Osasco, com a ocupação da Cobrasma, em julho de 1968, na qual é preso Zequinha Barreto. Três meses depois, Zequinha é solto, mas em pouco tempo já está com prisão novamente decretada.
A ditadura ficara mais acirrada com o Ato Institucional no 5 – A.I.5, em 13 de dezembro de 1968. Tempos depois, é Arcênio quem faz a segurança do companheiro, até uma rodoviária de São Paulo, de onde Zequinha segue para Brotas de Macaúbas – Bahia.
A relação de Arcênio e de seus irmãos, Jaime e Zezão, com a família de Barreto era muito forte, juntando num só laço companheirismo e amizade, afeto e militância. O respeito e a admiração eram mútuos, embora estivessem em agrupamentos diferentes.
Arcênio, que combatia as injustiças no dia a dia, instintivamente, desde sua infância no campo. Já havia então descoberto que por trás destas injustiças, estava um sistema chamado capitalismo e que a ditadura era a forma encontrada na época para garantir este sistema. Começou sua militância organizada com o Partido Operário Comunista (POC), junto ao qual participa de cursos de formação política, programática e revolucionária, que eram o preparo contra o capitalismo, na luta pelo socialismo e para as ações de resistência à ditadura. É no Frigorífico Wilson onde começa colocar em prática seu trabalho de organização de base, junto com os companheiros Mascarenhas, Nilson e seu irmão Jaime, trabalho que rende a primeira perseguição.
62 Zequinha Barreto
Em 1971, já preso, seguiu a conduta de não abrir nenhuma informação sob tortura, nos porões da ditadura, mesmo colocando a própria vida em jogo. Foi lá que soube da morte de seu camarada Zequinha Barreto e, com o rosto entre as grades da cela, não se conteve e chorou.
Saindo da prisão, mesmo com todas as adversidades do momento político, sem amparo e sem organização, nunca pronunciou uma palavra de esmorecimento ou descrença na luta de classes. Continuou com sua prática de organização da classe operária no local de trabalho. Os comitês de empresa, os grupos e comissões de fábrica foram as marcas de sua vida, com simplicidade e decisão, como militante operário.
No final dos anos 70, atua ativamente na construção das oposições sindicais, em Osasco, com a Oposição Sindical Metalúrgica, e na Capital, junto à Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Participa da fundação do PT e, nos anos 80, da CUT. É nesta época que faz parte da Comissão de Fábrica da ASAMA, metalúrgica de São Paulo. Nos anos 90, já numa empresa do setor plástico, passa a fazer parte da diretoria do Sindicato dos Químicos de Osasco.
Arcênio combinou de forma dialética a construção partidária com a atuação nos movimentos populares e sindicais, com uma rara clareza sobre o significado da democracia operária nos organismos de massa e o caráter de frente única do sindicato. Com toda sua sinceridade de operário que quer mudar o mundo, sabia que isso só aconteceria se a classe aprendesse o que é o capitalismo e a luta de classes.
Por onde passava, desde sua própria casa, com os filhos, até as ocupações, as oposições sindicais, as associações de trabalhadores, no chão da fábrica, no ambiente partidário, no sindicato, estimulava a leitura e o aprendi
Um Revolucionário Brasileiro 63


zado, ensinava tudo o que aprendia aos que estavam em volta, formava grupos de estudo. Foi por sua sugestão que nasceu a Biblioteca Popular do Instituto Zequinha Barreto.
A estrutura do Instituto, suas Coordenações e a missão na Formação Política dos Estudantes e Trabalhadores Socialistas O Instituto Zequinha Barreto, além da Biblioteca,
mantém várias coordenações, cada uma com atuação em uma determinada área da formação popular dos trabalhadores e estudantes, divididas em núcleos.
São eles:
· Núcleo de Formação Política: Promove cursos, seminários e publicações relativas à formação política dos associados e demais interessados, inclusive militantes dos movimentos popular e sindical.
· Núcleo de Comunicação e Propaganda: Responsável pela imprensa, propaganda, boletim eletrônico e Sítio na Internet do Instituto: (www.zequinhabarreto.org.br). Discute também a imprensa em geral e o apoio à imprensa alternativa.
· Núcleo de Documentação e Biblioteca: Responsável pela Biblioteca e pelo Centro de Documentação e Memória Histórica da luta dos trabalhadores em geral e da região. Coordena a publicação de livros, vídeos e outros meios.
· Núcleo de Atividades Culturais: Organiza ativida
64 Zequinha Barreto
des culturais, faz o intercâmbio entre o Instituto e os Centros Populares e Casas de Cultura, discute a cultura numa perspectiva socialista e inclusiva.
· Núcleo de Políticas Públicas: Responsável pela elaboração de propostas de políticas públicas numa perspectiva socialista. Assessora os movimentos sociais nas suas áreas de atuação setorial.
· Núcleo de Defesa de Gênero, Combate ao Racismo e Direitos Sociais: Organiza debates, seminários, eventos relacionados à defesa da mulher, do negro, do índio, dos homossexuais e outras minorias. Apóia e mantém o intercâmbio com entidades afins.
· Núcleo de Juventude e Estudantil: Organiza debates, seminários e eventos relacionados à Juventude e temas do seu interesse e do movimento estudantil. Estuda e propõe a implantação de políticas públicas voltadas à juventude junto aos órgãos públicos.
· Apoio às Lutas Populares: Acompanha e informa a Coordenação Colegiada do Instituto sobre as atividades de apoio e solidariedade às lutas dos trabalhadores na região, e em níveis nacional e internacional. Responsabiliza- se pela mobilização dos associados do Instituto nas atividades de solidariedade e apoio às lutas populares.
Estimula a auto-organização dos trabalhadores e da população da região.
· Apoio às Relações Sindicais e de Trabalho: Organiza Debates, Estudos, Seminários e Eventos relacionados à questão Sindical. Realiza projetos e propõe parcerias com organizações sindicais, visando a melhoria nas
Um Revolucionário Brasileiro 65
relações de trabalho e na defesa dos trabalhadores em geral. Realiza cursos de formação política e sindical para trabalhadores e lideranças do setor. Elabora cartilhas e material de formação em geral, priorizando o enfoque nos direitos dos trabalhadores e na história das lutas sindical e trabalhista. Valoriza e divulga a luta dos heróis populares que deram suas vidas na defesa do trabalho, da democracia e do socialismo.
· Auto-Gestão e Economia Solidária: Organiza Debates, Estudos, Seminários e Eventos relacionados às experiências em Auto-Gestão. Mantém contato e intercâmbio com entidades de Auto-Gestão e Organizações Não- Governamentais que se encaixem nos objetivos propostos pelo Instituto. Realiza projetos e propõe parcerias em auto-gestão para grupos que mantêm Cooperativas de Trabalhadores, entidades e organizações afins. Elabora trabalhos e estudos sobre auto-gestão para publicação pelo Instituto.
Como participar do
Instituto Zequinha Barreto
O Instituto é um espaço aberto à participação de todos aqueles que se reivindicam socialistas e têm uma atuação prática e democrática voltada para a propaganda e para a luta por esta causa.
A associação ao Instituto dá direito a participar de seus fóruns de decisão, votar e ser votado para os órgãos de direção, receber as publicações, participar de cursos e seminários. Uma contribuição financeira é exigida, mas dentro das próprias possibilidades de cada um. São totalmente isentos de pagamento os companheiros que não tiverem renda própria ou estiverem desempregados.
66 Zequinha Barreto
Organização e textos compilados por:
Márcio Amêndola de Oliveira – Coordenador do Núcleo de Memória Operária e Popular
do Instituto Socialismo e Democracia José Campos Barreto (Zequinha Barreto)
Contatos:Celular: (11) 7382-4766 – E-Mail: marcioamendola@ig.com.br 
blog.zequinhabarreto.org.br

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