Matéria sobre o dia 28 de julho dia do agricultor.
28 de julho, dia do agricultor, devia ser feriado
Richard Jakubaszko
28 de julho devia ser feriado nacional *
A data é de homenagens, e nesse texto resume-se a evolução
do produtor rural por seu trabalho na história da humanidade.
A homenagem no dia 28 de julho, quando é comemorado o dia do agricultor, foi instituída com pompa e circunstância em 1960, a partir do centenário da criação do Ministério da Agricultura. O então presidente Juscelino Kubitschek sancionou o decreto que aprovou a data, pois atribuía o trabalho do agricultor como responsável pelo crescimento econômico do País. O presidente deveria ter decretado também que seria feriado, para os urbanos refletirem sobre a benção do alimento que recebem diariamente, nem imaginam de onde vem tanta coisa boa, talvez detrás da gôndola do supermercado.
Na verdade, a homenagem, assim nos parece, chegou atrasada. Talvez com uns 5 mil anos de atraso, e há quem arrisque dizer quase 10 mil anos, quando a agricultura neolítica atingia apenas o Atlântico, o mar do Norte, o Báltico, o vale do Ganges e a grande floresta equatorial africana, as regiões mais próximas já estavam há algum tempo cultivadas e percorridas pelos rebanhos.
O rio Nilo transbordava após o solstício, a cada ano isso se repetia entre julho e outubro. Os cultivos na vazante eram feitos após o recuo das águas, quando os solos estavam úmidos e enriquecidos pelos depósitos de aluviões, fertilizando os solos e permitindo colheitas fartas para os egípcios, região onde a própria Bíblia registra os primeiros sinais da humanidade na prática de uma agricultura empresarial, através da armazenagem de grãos e fertilização dos solos.
Mudanças no clima e desenvolvimentos da tecnologia podem ter sido as razões iniciais que impulsionaram a agricultura. Mas a agricultura de então já permitia a existência de aglomerados humanos com muito maior densidade populacional que os que podiam ser suportados pela caça e coleta. Houve uma transição gradual na qual a economia de caça e coleta coexistiu com a economia agrícola: algumas culturas eram deliberadamente plantadas e outros alimentos eram obtidos da natureza.
O grupo que se fixou na terra tinha mais tempo dedicado a atividades com objetivos diferentes de produzir alimentos, que resultaram em novas tecnologias e a acumulação de bens de capital, daí o aculturamento e o melhoramento do padrão de vida.
No Império Romano nasceu a organização rural, base da agricultura, desenvolvido depois na Idade Média. A Deusa Ceres da mitologia romana, a deusa das plantas que brotam (dos grãos) e do amor maternal, era o símbolo da época.
A força empregada no trabalho com a terra era, essencialmente, humana. Depois, a domesticação de animais permitiu a utilização de bois e cavalos para o trabalho de aração da terra.
Interessante é que o primeiro tipo de agricultura foi a itinerante, praticada pelos nômades, povos que não tinham moradia fixa, através do plantio, colheita, queima do terreno e novas plantações, até que o solo não produzisse mais, período após o qual se mudavam para novas plagas.
A partir das técnicas que controlavam as plantações, evitando que as mesmas fossem destruídas pelos fenômenos da natureza, o homem passou a ter moradia fixa, constituindo assim as primeiras cidades, como no caso do Egito Antigo, e suas plantações ao longo das margens do rio Nilo.
Nas Américas os Maias (que viveram nos séculos 4 a 9 a.C., nas atuais Guatemala e Honduras) praticavam notável agricultura, com alta tecnologia, baseada no milho, feijão e na batata. Muito tempo depois, os Astecas (séculos 14 a 16, no México) implantaram um original sistema de irrigação, cultivando milho, pimenta, tomate e cacau.
O milho era o alimento sagrado daquele povo, que domesticou lhamas, vicunhas e as alpacas, que também lhes forneciam lã, carne e leite. A agricultura antiga se caracterizava como atividade de subsistência, ou seja, produzia-se a comida da própria família ou da tribo. Não existiam trocas ou vendas de produtos.
Conforme nos relata o engenheiro agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Embrapa, doutor em ecologia, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO, a transição da evolução humana entre o período de ser caçador e coletor, que eram itinerantes, para a fase de agricultores, que se fixavam à terra, só foi possível quando se instituiu o direito de propriedade, e, consequentemente, no respeito à posse dos bens produzidos como fruto do trabalho.
Não se sabe quando e alhures, se no Egito ou na antiga Roma, festas passaram a ser realizadas após as colheitas, em celebração à fartura propiciada pelos deuses. Até hoje fazemos assim. No Brasil há inúmeros registros dessas manifestações. A mais antiga foi trazida pelos Jesuítas, há mais de 4 séculos, e que são as festas Juninas, comemoradas em todo o Brasil, especialmente no Nordeste, como manifestação de alegria pela abundância de alimentos. Já no Rio Grande do Sul a história da uva na Serra Gaúcha começa em 1875, ano em que chegaram as primeiras levas de imigrantes, vindas de inúmeras províncias italianas. As mudas de videiras trazidas pelos italianos cobriram os vales e encostas da região. Em poucas décadas a viticultura tornou-se a principal atividade econômica. Com o grande desenvolvimento do setor vinícola, surgiu a ideia de se realizar em Caxias do Sul uma exposição de uvas, de caráter festivo. Em 7 de março de 1931 se realizou a primeira Festa da Uva, com duração de apenas um dia, no centro de Caxias do Sul.
A agricultura antiga era de subsistência. Não existiam trocas ou vendas de produtos.
A Festa da Uva começou antes mesmo da emancipação do município, quando os agricultores se reuniam para celebrar a colheita ao som de música e alegria. Era um momento mágico, em que os produtores comemoravam com a comunidade o fruto de seu trabalho. Hoje, a Festa da Uva é o maior evento turístico e cultural da cidade.
As tecnologias trouxeram novos modelos de agricultura, que permitiram o aumento da produção através da melhoria da produtividade.
O agricultor já foi chamado de camponês, lavrador, agricultor de subsistência, pequeno produtor, campesino, agricultor familiar. A evolução social e as transformações sofridas por esta categoria são consequências de uma nova situação deste trabalhador, fundamental para o desenvolvimento do País.
Temos a convicção de que, para ser agricultor, é preciso gostar, ter a vocação, e isso, para muitos, vem desde a tenra infância. Mais do que qualquer outra profissão ou atividade, é preciso ter amor pela terra, para poder produzir o que há de mais sagrado para a humanidade: o alimento, que garante a vida. Dedicados a essa atividade, os agricultores observam e respeitam o clima, ora amigo, ora inimigo, e ainda enfrentam os cíclicos cenários de mercado e consumo, ou seja, a cada safra e a cada ano surgem novos desafios.
No mundo contemporâneo os desafios tornam-se cada vez maiores, e em breve haverá necessidade de se alimentar mais de 9 bilhões de bocas insaciáveis. Será o maior desafio da humanidade, e dos agricultores, comparando-se este objetivo com os desafios do passado, recentes e remotos, registrados de forma épica e dramática nos livros da história universal.
A homenagem ao dia do Agricultor, como vemos, é um “marketing” de boa vontade dos políticos e dos urbanos, e com certeza chegou com enorme atraso, um imperdoável e milenar atraso. Entretanto, com a data da homenagem se manifesta o respeito que o produtor rural merece por seu trabalho, sendo ele ainda credor de outras manifestações de agradecimento pelos trabalhadores urbanos, pois o dia do Agricultor deveria ser feriado nacional, mesmo que esse dia fosse, para os agricultores, um feriado facultativo, pois o trabalho nunca para.
A homenagem no dia 28 de julho, quando é comemorado o dia do agricultor, foi instituída com pompa e circunstância em 1960, a partir do centenário da criação do Ministério da Agricultura. O então presidente Juscelino Kubitschek sancionou o decreto que aprovou a data, pois atribuía o trabalho do agricultor como responsável pelo crescimento econômico do País. O presidente deveria ter decretado também que seria feriado, para os urbanos refletirem sobre a benção do alimento que recebem diariamente, nem imaginam de onde vem tanta coisa boa, talvez detrás da gôndola do supermercado.
Na verdade, a homenagem, assim nos parece, chegou atrasada. Talvez com uns 5 mil anos de atraso, e há quem arrisque dizer quase 10 mil anos, quando a agricultura neolítica atingia apenas o Atlântico, o mar do Norte, o Báltico, o vale do Ganges e a grande floresta equatorial africana, as regiões mais próximas já estavam há algum tempo cultivadas e percorridas pelos rebanhos.
O rio Nilo transbordava após o solstício, a cada ano isso se repetia entre julho e outubro. Os cultivos na vazante eram feitos após o recuo das águas, quando os solos estavam úmidos e enriquecidos pelos depósitos de aluviões, fertilizando os solos e permitindo colheitas fartas para os egípcios, região onde a própria Bíblia registra os primeiros sinais da humanidade na prática de uma agricultura empresarial, através da armazenagem de grãos e fertilização dos solos.
Mudanças no clima e desenvolvimentos da tecnologia podem ter sido as razões iniciais que impulsionaram a agricultura. Mas a agricultura de então já permitia a existência de aglomerados humanos com muito maior densidade populacional que os que podiam ser suportados pela caça e coleta. Houve uma transição gradual na qual a economia de caça e coleta coexistiu com a economia agrícola: algumas culturas eram deliberadamente plantadas e outros alimentos eram obtidos da natureza.
O grupo que se fixou na terra tinha mais tempo dedicado a atividades com objetivos diferentes de produzir alimentos, que resultaram em novas tecnologias e a acumulação de bens de capital, daí o aculturamento e o melhoramento do padrão de vida.
No Império Romano nasceu a organização rural, base da agricultura, desenvolvido depois na Idade Média. A Deusa Ceres da mitologia romana, a deusa das plantas que brotam (dos grãos) e do amor maternal, era o símbolo da época.
A força empregada no trabalho com a terra era, essencialmente, humana. Depois, a domesticação de animais permitiu a utilização de bois e cavalos para o trabalho de aração da terra.
Interessante é que o primeiro tipo de agricultura foi a itinerante, praticada pelos nômades, povos que não tinham moradia fixa, através do plantio, colheita, queima do terreno e novas plantações, até que o solo não produzisse mais, período após o qual se mudavam para novas plagas.
A partir das técnicas que controlavam as plantações, evitando que as mesmas fossem destruídas pelos fenômenos da natureza, o homem passou a ter moradia fixa, constituindo assim as primeiras cidades, como no caso do Egito Antigo, e suas plantações ao longo das margens do rio Nilo.
Nas Américas os Maias (que viveram nos séculos 4 a 9 a.C., nas atuais Guatemala e Honduras) praticavam notável agricultura, com alta tecnologia, baseada no milho, feijão e na batata. Muito tempo depois, os Astecas (séculos 14 a 16, no México) implantaram um original sistema de irrigação, cultivando milho, pimenta, tomate e cacau.
O milho era o alimento sagrado daquele povo, que domesticou lhamas, vicunhas e as alpacas, que também lhes forneciam lã, carne e leite. A agricultura antiga se caracterizava como atividade de subsistência, ou seja, produzia-se a comida da própria família ou da tribo. Não existiam trocas ou vendas de produtos.
Conforme nos relata o engenheiro agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Embrapa, doutor em ecologia, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO, a transição da evolução humana entre o período de ser caçador e coletor, que eram itinerantes, para a fase de agricultores, que se fixavam à terra, só foi possível quando se instituiu o direito de propriedade, e, consequentemente, no respeito à posse dos bens produzidos como fruto do trabalho.
Não se sabe quando e alhures, se no Egito ou na antiga Roma, festas passaram a ser realizadas após as colheitas, em celebração à fartura propiciada pelos deuses. Até hoje fazemos assim. No Brasil há inúmeros registros dessas manifestações. A mais antiga foi trazida pelos Jesuítas, há mais de 4 séculos, e que são as festas Juninas, comemoradas em todo o Brasil, especialmente no Nordeste, como manifestação de alegria pela abundância de alimentos. Já no Rio Grande do Sul a história da uva na Serra Gaúcha começa em 1875, ano em que chegaram as primeiras levas de imigrantes, vindas de inúmeras províncias italianas. As mudas de videiras trazidas pelos italianos cobriram os vales e encostas da região. Em poucas décadas a viticultura tornou-se a principal atividade econômica. Com o grande desenvolvimento do setor vinícola, surgiu a ideia de se realizar em Caxias do Sul uma exposição de uvas, de caráter festivo. Em 7 de março de 1931 se realizou a primeira Festa da Uva, com duração de apenas um dia, no centro de Caxias do Sul.
A agricultura antiga era de subsistência. Não existiam trocas ou vendas de produtos.
A Festa da Uva começou antes mesmo da emancipação do município, quando os agricultores se reuniam para celebrar a colheita ao som de música e alegria. Era um momento mágico, em que os produtores comemoravam com a comunidade o fruto de seu trabalho. Hoje, a Festa da Uva é o maior evento turístico e cultural da cidade.
As tecnologias trouxeram novos modelos de agricultura, que permitiram o aumento da produção através da melhoria da produtividade.
O agricultor já foi chamado de camponês, lavrador, agricultor de subsistência, pequeno produtor, campesino, agricultor familiar. A evolução social e as transformações sofridas por esta categoria são consequências de uma nova situação deste trabalhador, fundamental para o desenvolvimento do País.
Temos a convicção de que, para ser agricultor, é preciso gostar, ter a vocação, e isso, para muitos, vem desde a tenra infância. Mais do que qualquer outra profissão ou atividade, é preciso ter amor pela terra, para poder produzir o que há de mais sagrado para a humanidade: o alimento, que garante a vida. Dedicados a essa atividade, os agricultores observam e respeitam o clima, ora amigo, ora inimigo, e ainda enfrentam os cíclicos cenários de mercado e consumo, ou seja, a cada safra e a cada ano surgem novos desafios.
No mundo contemporâneo os desafios tornam-se cada vez maiores, e em breve haverá necessidade de se alimentar mais de 9 bilhões de bocas insaciáveis. Será o maior desafio da humanidade, e dos agricultores, comparando-se este objetivo com os desafios do passado, recentes e remotos, registrados de forma épica e dramática nos livros da história universal.
A homenagem ao dia do Agricultor, como vemos, é um “marketing” de boa vontade dos políticos e dos urbanos, e com certeza chegou com enorme atraso, um imperdoável e milenar atraso. Entretanto, com a data da homenagem se manifesta o respeito que o produtor rural merece por seu trabalho, sendo ele ainda credor de outras manifestações de agradecimento pelos trabalhadores urbanos, pois o dia do Agricultor deveria ser feriado nacional, mesmo que esse dia fosse, para os agricultores, um feriado facultativo, pois o trabalho nunca para.
* Publicado na Agro DBO / julho, em homenagem aos agricultores.
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